Acidentes com vítimas fatais são registrados na BR-116 que, com pavimentação ruim, oferece risco na viagem
Jati. Buracos, animais na pista e sinalização precária. Esta é a situação da BR-116, principal acesso do Sul do País para o Ceará. "A velha Transnordestina, que agora tem o nome de Santos Dumont, está acabada". A reclamação é dos motoristas de carretas que são obrigados a atrasar a entrega das mercadorias em razão do péssimo estado de conservação da rodovia.
A "via-crucis" dos motoristas começa no limite do Ceará com Pernambuco, a partir do município de Penaforte. "O percurso de 20 quilômetros, entre Jati e Brejo Santo, que normalmente é feito em meia hora, está consumindo mais de uma hora", diz o motorista Ivaldo Silva, na direção um caminhão-tanque que transporta leite de Garanhuns para Morada Nova. A mesma reclamação é feita pelo carreteiro Antônio Carlos Siqueira, que transporta sal de Mossoró para Minas Gerais.
Além do atraso na viagem, o mais preocupante são os prejuízos. "Não tem pneu que suporte esta buraqueira" reclama o motorista Newton Valentim, na direção de uma carreta com destino à Mato Grosso do Sul. Newton afirma que os buracos começam em Fortaleza. "A trepidação acaba com os veículos. A gente sai de casa sem data para chegar", complementa.
Na tentativa de desviar dos buracos, os carros são atravessados no meio da pista. Em alguns trechos, os motoristas escolhem a contramão como via alternativa, com um risco de causar um acidente. Recentemente, três engenheiros da EIT, que trabalham na construção da ferrovia Transnordestina, morreram vítimas de um desastre na BR-116, entre Penaforte e Salgueiro.
As cruzes ao longo da BR denunciam o grande número de acidentes com vítimas fatais. Sentado ao lado de uma cruz, no Sítio Piçarra, entre Jati e Brejo Santo, o agricultor José Joaquim de Souza diz que é um perigo atravessar a estrada. "Quando menos a gente espera, vem um carro na contramão" reclama ele, que todo dia convive com o risco de morte.
O sofrimento dos motoristas é a alegria dos borracheiros. O proprietário da Borracharia Oriental, Cícero Mateus da Silva, diz que toda hora aparece um motorista para consertar pneus ou desamassar as rodas dos veículos. Ao lado de um monte de pneus danificados, Cícero comemora a movimentação da borracharia, dizendo que foi obrigado a contratar mais dois auxiliares para dar conta de todo o trabalho.
Os carreteiros advertem que a operação tapa-buraco realizada pelo governo não resolve o problema. O trecho entre Jati, Brejo Santo e Milagres já foi consertado várias vezes. Na primeira chuva que cai, os buracos são reabertos.
Outra preocupação é com a sinalização. Em alguns trechos, os buracos acabaram com as faixas amarelas e brancas que deveriam orientar os motoristas. A indicação de ultrapassagem proibida está sendo prejudicada pela buraqueira.
O risco é maior à noite. As placas estão perfuradas de balas, o que impede a visibilidade. As lombadas são mal sinalizadas. Os vibradores de cimento se confundem com os buracos.
Na periferia das cidades é grande o número de animais na margem da BR. São jumentos, burros, cavalos e vacas. De vez em quando, eles atravessam de um lado para o outro da pista, provocando acidentes. O motorista Humberto Júnior diz que dirige "com o coração na mão". A todo momento, leva um susto com os animais no meio da via.
Os motoristas reclamam também dos assaltos, principalmente em Pernambuco, onde as carretas são acompanhadas por policiais militares. A alternativa é andar em comboio. É um perigo parar na estrada deserta. De acordo com o Dnit, este trecho já está licitado e as pbras devem ser iniciadas em breve.
BURAQUEIRA
A gente não pode marcar a data da entrega da mercadoria, depende da buraqueira"
Ivaldo Silva
Motorista
Os buracos começam depois de Fortaleza. Não tem veículo que suporte tanta trepidação"
Newton Valentin
Motorista
ANTÔNIO VICELMO
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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