Emergência no Ceará

Em todo o Ceará já se contabiliza as perdas na agricultura, em alguns casos supera 70%, devido a falta de chuvas

Fortaleza. Com uma quadra chuvosa considerada muito abaixo da média na distribuição dos meses de abril até maio, e uma estimativa de perda que cresce a cada dia que não chove, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) não pretende ceder às pressões para adiantar a liberação do Garantia Safra, no entanto não nega para até a primeira semana de junho a previsão mais concreta para o decreto de situação de Emergência. Prefeituras municipais e a Ematerce correm contra o tempo para a conclusão do relatório de perdas nas lavouras do Interior, que em alguns casos supera 70%.

De 1 de janeiro até ontem, as chuvas registradas em todas as macrorregiões do Estado ficaram 53% abaixo da média histórica, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). E para os próximos três dias a previsão é de muito sol e parcas pancadas de chuva, especialmente no litoral de Fortaleza e Pecém. Não só a ausência de chuvas, mas, principalmente, a irregularidade das poucas precipitações, ocasionando os veranicos, têm prejudicado a lavoura cearense, num quadro cada vez mais claro de "seca verde", ou mesmo seca propriamente dita - caso dos Inhamuns. "A situação é realmente de muitas perdas", afirma com menos dúvida - que no início do mês -, o secretário executivo Wilson Brandão, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA).

A mais recente informação do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LPSA), divulgado no fim de abril, já apontava para uma perda significativa em pelo menos 14 de 46 produtos pesquisados. A variação negativa inclui algodão herbáceo, arroz de sequeiro, feijão, milho e mandioca. O problema já é sentido na mesa do consumidor, que está pagando mais caro por esses produtos ou mesmo cozinhando menos vezes - caso do feijão.

No total contabilizado pelo IBGE, a estimativa era de produção, em abril deste ano, 23,82% menos do que se esperava no início do ano e 20,48% em relação ao mesmo período do ano passado. De 1 a 23 de abril, o desvio negativo da quadra chuvosa foi maior na região do Litoral Norte, com 26,1% negativos. Esse levantamento do IBGE será atualizado até o início do mês de junho. Será também na primeira semana do mês de junho que a Funceme apresentará novo prognóstico de chuvas.

A região jaguaribana apresentou a pluviosidade mais próxima da média histórica. "A perda não é pelas poucas precipitações ocorridas, mas pelos veranicos que existiram", explica Wilson Brandão, secretário executivo da SDA, que confirmou, ainda, a pressão que o órgão vem sofrendo, principalmente da parte dos municípios, para que haja antecipação da liberação de recurso do Garantia Safra, para compensar a perda dos trabalhadores. "Vamos obedecer o cronograma, e não há nenhuma possibilidade de se mexer no Programa Garantia Safra, isso desmoralizaria o programa", alegou, sobre o programa que, neste ano, foi recorde no número de vagas no Ceará- ampliou de 150 mil para 300 mil o número vagas para agricultores. Foram preenchidas aproximadamente 280 mil vagas.

Centro-Sul

Na região Centro-Sul, o índice médio de perda da lavoura de sequeiro (aquela que depende da chuva) varia entre 65% e 70%. Os dados são resultados de levantamentos feitos pelos escritórios da Ematerce, secretarias de Agricultura dos municípios e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STRS). O quadro é de seca verde e a situação é considerada crítica.

O primeiro plantio feito em fevereiro passado obteve perda total e o segundo entre o fim de março e o início de abril registra frustração parcial, acima de 60%. Na maioria dos municípios, a cultura de milho foi a mais afetada. "A perda do milho é de 70%", disse o secretário de Agricultura de Icó, Mailton Bezerra. "Talvez aproveite 30% do segundo cultivo".

Os municípios estão mobilizados na preparação do Comunicado de Ocorrência de Perdas que será encaminhado para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, visando ao desembolso dos recursos do Garantia Safra. "Em Jucás, a perda é de 70%", disse o secretário de Agricultura, José Teixeira Neto. O chefe do escritório da Ematerce, Edmilson Cavalcante, confirmou esse índice. "Infelizmente o quadro é de seca verde".

O chefe do escritório da Ematerce em Iguatu, Erivaldo Barbosa, disse que, na região, a perda das culturas de milho e feijão varia entre 65% e 70%. "O último relatório registrou perda de 60%", observou. "No município a chuva ficou 12% acima da média, mas foi mal distribuída". Houve veranicos com quase 30 dias em precipitação. No campo, o segundo plantio de milho e feijão está em fase de desenvolvimento, de encher os grãos, mas a falta de chuva afeta a cultura nesse período crítico de desenvolvimento. Só aumentam chances de mais perdas.

Inscritos
300 mil vagas para agricultores foram disponibilizadas, este ano, no Programa Garantia Safra para o Estado do Ceará. Foram preenchidas, aproximadamente, 280 mil

MAIS INFORMAÇÕES
secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará (SDA)
(85) 3101.8000

Melquíades Jr./Honório BarbosaColaborador/ Repórter
PREJUÍZO NO CAMPO

Perdas na safra chegam a ser total

Crato.
Antes mesmo do posicionamento oficial do governo, os agricultores do Cariri já "decretaram" o quadro de seca verde, colocando o gado dentro das roças de milho e feijão para aproveitar, pelo menos, a pastagem do pouco que sobrou do inverno deste ano. Nos municípios de Missão Velha, Brejo Santo e Crato, de acordo com informações dos líderes sindicais, a perda foi superior a 70%. O secretário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Crato, Zilcélio Ferreira, orienta os pequenos produtores a não transformarem o plantio em pasto, tendo em vista que os técnicos da Ematerce ainda estão fazendo a avaliação dos prejuízos no Estado.

Quem acreditou nas chuvas de março, depois do dia 19, dia de São José, perdeu o plantio. O agropecuarista Joaquim Rubens Arrais, do Sítio Cana Brava, em Missão Velha, perdeu o primeiro plantio. Só aproveitou a palha para o gado. No segundo plantio, ao invés de soltar o gado na área, resolveu irrigar o milho que já estava soltando pendão. Quem não teve condições de irrigar, vendeu o pasto para os criadores de gado.

A chefe do escritório da Ematerce do Crato, Elcileide Mendonça, informou que o resultado oficial do índice de perda só será divulgado na próxima semana. Os escritórios da Ematerce já enviaram o resultado do levantamento feito em campo, mas não tem autorização para divulgar por enquanto.

Sertão Central

Representantes dos trabalhadores rurais do Sertão Central se reúnem na quinta-feira na sede regional da Fetraece, em Quixadá. Pretendem avaliar a situação das perdas de safra, para a maioria, 100%. No encontro também vão discutir as estratégias de sensibilização dos governos municipais, do Estado e Federal quanto ao amparo às famílias afetadas pela seca verde. Frentes de serviço com restauração e construção de barragens e de cisternas são algumas delas. A antecipação do pagamento do Garantia Safra também está na pauta. Caso não sejam atendidos, pretendem realizar manifestações e ocupar prédios públicos na região.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Quixadá, Eronilton Buriti, avalia as perdas no seu município em torno de 70%. Quanto ao Garantia Safra, vê apenas como alternativa parcial da assistência emergencial. Segundo ele, o valor a ser repassado não é suficiente para atender às necessidades básicas sequer de uma família com quatro pessoas. A maioria das prefeituras ainda não efetuaram o pagamento da contrapartida para recebimento do benefício. Apesar de terem até o dia 15 de junho para se regularizarem, 1.800 agricultores de seu município não foram incluídos no programa. Vão enfrentar dificuldades ainda maiores.

Zona Norte

Em todos os municípios da Zona Norte do Estado já se contabiliza perda na safra deste ano. Em Sobral, o maior deles, onde foram distribuídas 30 toneladas de sementes, os dados apresentam perda em torno de 60%. Porém, segundo a gerente do escritório regional da Ematerce, Inocência Fernandes Freire Linhares, podem chegar ao final de todo o levantamento a 80%. "Este ano houve período em que ficamos mais de 40 dias sem chuva. Apesar de alguns agricultores terem reiniciado o plantio, eles não conseguiram garantir uma boa safra", disse.

Os prejuízos com a safra em outros municípios como Alcântaras, Forquilha e Groaíras que junto representam um pouco mais de 1.100 agricultores assistidos pelo Programa Hora de Plantar, já somam 55%. Inocência Freire adiantou que, a partir do dia 24 deste mês, os agricultores de Sobral estarão recebendo a primeira das cinco parcelas que terão direito do Seguro Safra, o valor é de R$ 110,00.

ANTÔNIO VICELMO/ALEX PIMENTEL/ WILSON GOMES
Repórter e Colaboradores


Fonte: Diário do Nordeste

Comentários