Fortaleza. Cerca de 85% do território cearense é pobre em água subterrânea. Assim, cuidar dos poucos aquíferos restantes no Estado - o que corresponde a 15% do território cearense - é importante para garantir o abastecimento humano nas gerações futuras. Um estudo recente, realizado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), apresenta a atual situação em que se encontram os reservatórios subterrâneos na região do Cariri, no sul do Estado.
O estudo, intitulado "Plano de Monitoramento e Gestão dos Aquíferos da Bacia do Araripe", será apresentado amanhã no Cine Teatro Salviano Arraes, na cidade do Crato. Os dados mostram a necessidade de se pensar em novos meios adequados para usufruir a água existente no subsolo, como também elaborar políticas públicas de saneamento básico e garantir, enfim, a qualidade desses aquíferos. As bacias subterrâneas no Ceará localizam-se nas bacias Litorânea, Serra Grande, Potiguar/Apodi, além da do Araripe.
As análises nessas duas últimas bacias foram iniciadas em 2007 e serão prolongadas até 2011. O resultado a ser apresentado amanhã é ainda uma preliminar de como se encontra a qualidade das reservas subterrâneas. "O nosso trabalho continua. Iremos estender a pesquisa até 2011 nas bacias do Araripe e do Potiguar/Apodi", diz o presidente da Cogerh, Francisco Teixeira. Espera-se que sejam incluídas outras bacias do Ceará no estudo, como a Litorânea e a Serra Grande.
De acordo com Teixeira, a partir do monitoramento realizado na Bacia do Araripe, foi possível constatar que a retirada da água está no limite da sua capacidade de renovação. Isso significa que, praticamente, toda água acumulada é utilizada e a renovação só pode ocorrer principalmente nos tempos de chuva. Risco? Provavelmente. Porque à medida que a industrialização cresce, o consumo de água também aumenta e é preciso pensar em meios adequados de uso. "Não estamos perto de um colapso, mas o estudo nos mostra que é preciso avaliar melhor a forma de uso da água", diz Teixeira.
Com o plano de monitoramento foi possível identificar 1.596 poços nas cidades de Abaiara, Barbalha, Brejo Santo, Crato, Juazeiro do Norte, Mauriti, Milagres, Missão Velha e Porteiras. Além disso, o projeto relata diversas atividades, como o cadastro de poços, isótopos ambientais e bacteriologia, implantação de estações de monitoramento, avaliação das dimensões do contorno dos aquíferos, balanço hídrico e estimativa de recargas e reservas e mobilização social.
"A qualidade da água dos aquíferos não foi bem estudada, bem gerida. Hoje, percebe-se que as regiões analisadas sempre usufruíram das águas subterrâneas e é preciso ter um cuidado com este recurso", salienta.
"Diferente da Bacia do Apodi, a Bacia Araripe é usada quase em sua totalidade para o consumo humano e abastece uma média de 600 mil pessoas". Mesmo assim, ainda se sabe muito pouco sobre a riqueza existente no subsolo do Ceará. O estudo mostra que é preciso acompanhar mais de perto como está a qualidade da água dos aquíferos, da mesma forma que acompanhar se a água é retirada de forma correta. É preciso "estar de olho" para evitar colapsos no futuro quanto à oferta de água.
Sobre as pesquisas com coliformes fecais, o estudo foi preocupante: das oito amostras de águas analisadas no Município de Barbalha, seis apresentaram contaminação por coliformes totais no período seco e cinco no período chuvoso, apresentando no segundo período maior contaminação por coliformes. As águas do Crato e Juazeiro do Norte indicaram a maior contaminação por coliformes no período seco, resultando 53,3% e 56,7%, respectivamente.
"Há necessidade de políticas públicas para saneamento básico", diz Teixeira. A preocupação deve-se ao fato de que, em contato com o lençol freático, o esgoto das grandes cidades prejudica a qualidade da água.
Fique por dentro
Bacia Araripe
A Bacia Sedimentar do Araripe, localizada na região sul do Ceará, possui uma área de aproximadamente 11.000Km². Apesar de estar inserida no "polígono das secas", é detentora de alguns dos aquíferos mais importantes do Nordeste do País. A região apresenta uma dinâmica econômica baseada, principalmente, nos setores da agricultura, de serviços além do turismo religioso. A principal alternativa de fonte hídrica é a água subterrânea, responsável pelo suprimento de 530.000 pessoas sem considerar a população flutuante. Nesse contexto, a Secretaria dos Recursos Hídricos, pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos, desenvolveu estudos nessa região com o objetivo de implantar um sistema de monitoramento contínuo, assim como fazer um diagnostico da qualidade e da quantidade das águas subterrâneas.
MAIS INFORMAÇÕES
Cogerh - Rua Adualdo Batista, 1550 - Cambeba - Fortaleza (CE)
(85) 3218.7020
www.cogerh.com.br
BACIA POTIGUAR/APODI
Água com agrotóxicos
Fortaleza. Na mesma perspectiva de análise da Bacia Araripe, foi realizado o estudo sobre a qualidade dos aquíferos na Bacia Potiguar/Apodi, no Vale do Jaguaribe. Os resultados identificaram a existência de contaminação por agrotóxicos, juntamente com os metais identificados pela análise: bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo e zinco. Os dados das análises de qualidade de água, obtidas com os estudos, indicaram que, em cada local de amostragem, há variação da qualidade do recurso de uma coleta para outra decorrente principalmente da recarga do sistema aquífero. A maioria das águas apresentou alto índice de mineralização, com altos valores de sólidos, o que causa incrustações que prejudicam os sistemas de irrigação. O monitoramento, intitulado "Plano de Gestão Participativa dos Aquíferos da Bacia Potiguar" destaca a situação das reservas subterrâneas no Vale do Jaguaribe. De acordo com o presidente da Cogerh, Francisco Teixeira, as duas bacias analisadas até o momento diferem quanto ao uso da água. Enquanto a Bacia Araripe é usada para o consumo humano, a Bacia Potiguar é usada na agricultura. "Na Bacia Potiguar/Apodi, a água é usada para a irrigação e tem uma qualidade natural. Tem muito calcário e isso a torna não muito boa para o consumo humano", diz.
É na Chapada do Apodi onde concentram-se as maiores áreas irrigadas com águas subterrâneas direcionadas para fruticultura, que gera produtos vendidos principalmente no mercado internacional.
Os resultados já foram apresentados à sociedade e destacam a identificou 784 poços, numa área de 4.768 km², o que corresponde a 8% da extensão total da Bacia Potiguar. Do total de poços, 244 estão localizados no município de Quixeré, 197 em Tabuleiro do Norte, 123 em Aracati, 82 em Alto Santo, 61 em Jaguaruana, 47 em Limoeiro do Norte, 29 em Icapuí, e dois tanto nas cidades de Russas quanto em Potiretama. Geograficamente, a Bacia Potiguar/Apodi pertence aos municípios de Limoeiro do Norte, Quixeré, Tabuleiro do Norte e Alto Santo no Ceará; e aos municípios de Baraúna, Dix-Sept Rosado, Felipe Guerra e Apodi, no Rio Grande do Norte.
O estudo envolveu parte dos territórios das sub-bacias hidrográficas do Baixo e Médio Jaguaribe, fazendo com que seja imprescindível o envolvimento e comprometimento dos respectivos Comitês de Bacias Hidrográficas na participação e acompanhamento do Projeto de Gestão Participativa dos aquíferos da Bacia Potiguar.
Monitoramento
784 Poços foram identificados pelo monitoramento da Cogerh na Bacia Potiguar. A área corresponde a 8% da extensão total da Bacia Potiguar, nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte
Maurício Vieira
Repórter
Fonte Diario do Nordeste
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