No enterro do garoto Bruce Cristian, parentes relataram os sonhos do adolescente e criticaram a ação do PM no caso
Um filho que todo pai e mãe gostariam de ter. Foi assim que o técnico em refrigeração Francisco das Chagas de Oliveira Sousa, 37, definiu o filho Bruce Cristian de Oliveira, 14, durante entrevista na tarde de ontem, momentos antes do sepultamento do garoto, no cemitério Jardim do Éden, no Município de Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Bruce, que, segundo o pai, tinha sonhos de ser veterinário, professor e, por último, jogador de futebol, foi assassinado na tarde do último domingo, com um tiro na nuca disparado por um soldado do Ronda do Quarteirão, em uma "ação desastrosa" da PM, quando seguia com o pai em uma motocicleta, no cruzamento da Rua Beni de Carvalho com Avenida Desembargador Moreira, Dionísio Torres.
O corpo do adolescente foi velado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, na manhã e tarde de ontem, na presença de amigos e parentes. O primo de Bruce, Eduardo Silva, 11, afirmou que sentirá muita falta de brincar com ele.
Segundo Letícia de Oliveira, 13, irmã do adolescente, na tarde em que acabou baleado e morto, o pai levaria o irmão para o estádio do Ceará, onde ele iria fazer a matricula na escolinha do time. "Pena que isso foi interrompido. Apaixonado por bola, tenho certeza que meu irmão está jogando futebol no céu. Ele era meu grande amigo. Vou me apegar na Justiça de Deus, que não falha", contou.
Silêncio
Às 14h19, o corpo do adolescente chegou ao cemitério sob grande silêncio, interrompido momentos depois, pelo choro do pai e da irmã do adolescente. Contrastando momentos de serenidade com outros de dor e desespero, nos quais buscava força junto a filha e a mulher, o pai de Bruce, não poupou críticas a atuação do policial militar que matou seu filho. Ele também descartou qualquer hipótese de tiro acidental.
"Não ouvi nenhuma abordagem. Vi uma pessoa com uma arma na mão gritando. E eu não consigo entender como um policial é treinado para dar segurança e comete um crime desses? Porque se você tem uma arma, aponta para um ser humano e puxa o gatilho desse jeito não é acidental", afirmou.
Em paz
Exatamente as 15h30, o corpo de Bruce foi sepultado sob aplausos e gritos de justiça vindos das dezenas de pessoas que prestaram a última homenagem ao jovem. Letícia, a irmã disse: "vai em paz meu irmão".
Na saída do cemitério, o pai do garoto afirmou não saber o que será da vida daqui para frente, mas pediu justiça. "Espero que não fique a impunidade, porque a dor (da morte do meu filho) veio com uma força tão grande, mas a impunidade dá punhaladas e mata aos poucos".
INQUÉRITO E SINDICÂNCIA
Investigações já foram iniciadasEnquanto a Polícia Civil apura o caso por meio de um inquérito policial, a PM investiga a ação através de sindicância
"Vocês não podem macular a Corporação por causa de um fato isolado. Afinal, nosso maior propósito é defender a vida do cidadão, mesmo que tenhamos que colocar em risco a nossa própria vida". Foi assim que o comandante geral da Polícia Militar, coronel William Alves Rocha, se defendeu dos ataques da opinião pública acerca da ação do soldado do Ronda do Quarteirão, Yuri Silveira, quando matou, com um tiro, o adolescente Bruce Cristian Oliveira, no que era para ser uma abordagem policial.
Na mesma entrevista, o comandante do Batalhão de Polícia Comunitária, coronel Werisleik Ponte Matias, respondeu ao que estava sendo chamado de ´despreparo policial´. "Foi um fato pontual. Somos 14 mil homens. Para chamar de despreparo, tinha que acontecer numa proporção muito maior. Foi um fato isolado que, infelizmente, aconteceu, mas já está sendo apurado".
Também faziam parte da mesa, o coronel Hélio Severiano Vasconcelos e o coronel Jarbas, que será o responsável pelo procedimento administrativo. As investigações já começaram e tem o prazo de 45 dias para ser concluídas, sem prorrogações.
O soldado Silveira está recolhido na sede do Batalhão Comunitário. Dependendo do resultado das investigações, ele poderá ser expulso. "Ele é um policial padrão, bom profissional e não tem mácula na ficha policial. Mas é inconcebível ceifar uma vida com um tiro acidental", disse Werisleik.
O 4º DP (Pio XII) está responsável pela investigação do caso. Ontem, o delegado José Munguba Neto recebeu do 2º DP(Aldeota) - plantonista - o material apreendido (capacete, moto, a arma do policial, um projétil de Ponto 40). "No local, nenhuma testemunha foi arrolada. Estamos voltando lá hoje para fazer isso", adiantou.
EMERSON RODRIGUES/PÉROLA CUSTÓDIO
REPÓRTER/ESPECIAL PARA POLÍCIA
Fonte: Blog Radio União
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