Caprinos e ovinos são os principais alvos dos ladrões. São fáceis de carregar e de serem vendidos nas feiras
da região
Um criador chegou a ter 210 cabeças roubadas de uma só vez. Agentes de segurança alegam falta de estrutura
Crateús - Além dos problemas provocados durante a estiagem, quando o gado definha por conta da falta de pasto e a escassez de água, os criadores do Sertão dos Inhamuns, de uns anos para cá, se deparam ainda com outra cruel situação: o roubo de animais que vem ocorrendo com frequência na região, de bovinos, ovinos e caprinos. Estes últimos, por serem menores e mais fáceis de carregar, são os mais furtados nas fazendas, sítios e propriedades rurais.
A situação aflige o sertanejo, que muitas vezes acaba entrando em desespero por não encontrar solução. É o que relata o presidente da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos da Região dos Inhamuns, localizada em Tauá, Francisco Elídio Parente. "A situação aqui é sem limites. Furtos de ovinos e caprinos são generalizados, e de bovinos ocorrem com frequência. Tivemos, inclusive, casos de criadores que foram roubados tantas vezes que acabaram adoecendo, entrando em depressão", relata.
Segundo ele, ao perceber as reses a menos, o criador faz rastreamento, busca nas proximidades, e quando não encontram buscam os órgãos públicos de segurança, sem obter êxito sobre o destino das suas crias. E os roubos se repetem constantemente. "Não sabemos o que fazer, onde encontrar solução para essa situação".
A Associação foi criada em 2002 e conta, atualmente, com pouco mais de 100 sócios. Elídio Parente garante que a grande maioria dos associados já sofreu com furtos de seus animais. Semanalmente, segundo ele, ouve-se falar em novos casos na região. Alguns em grande quantidade, outros em menor número. "Levam de 50 animais, de 20, de todo jeito", diz. O próprio presidente da Associação, que cria somente animais de raça em sua propriedade, diz que já foi vítima da ação dos ladrões, por várias vezes.
Maior roubo
Um caso de furto ocorrido ano passado, em abril, chamou a atenção de todo o Estado. Na localidade de Vaca Brava, município de Independência, o criador Odimar Coutinho teve 210 animais levados de uma vez só. Na ocasião, o criador estava de viagem para Brasília e, ao retornar, sentiu a falta de seu rebanho. Procurou na vizinhança e nada encontrou. Ele conta que um parente seu foi assassinado sem motivo aparente, por buscar pistas do roubo. Um dos autores do maior furto de animais da região encontra-se preso em Independência, não pelo furto dos animais, mas pelo crime de homicídio.
O prejuízo de Odimar Coutinho foi maior ainda do que os furtos que estão acontecendo agora, no período de seca, pois na época o gado estava gordo devido ao bom pasto da quadra chuvosa do ano passado. Segundo ele, "casos de roubos são frequentes aqui nesta região e nós precisamos de mais segurança. Queremos estar na nossa propriedade com a certeza de estarmos protegidos".
Além do prejuízo financeiro, Odimar lamenta a perda dos animais em si: "é doloroso perder, de uma vez só, tantos animais que a gente cria e cuida com esforço".
Dificuldades
Regiões com grandes espaços demográficos, poucas informações fornecidas pelas vítimas e medo de represálias, são as maiores dificuldades apontadas pelos órgãos de segurança da região. Segundo eles, estes desafios dificultam as investigações e elucidações dos furtos de animais na região.
"A região é muito grande e recebemos poucas pistas das vítimas", diz o policial civil Macário Mota, da Delegacia de Tauá. Mesmo assim, diz que os furtos diminuíram nos últimos meses em função do trabalho da Polícia, que prendeu três elementos que praticaram alguns furtos na região. "Quando recebemos informações, conseguimos prender". Ele conta que os praticantes dos delitos geralmente são da própria região e vendem os animais furtados nos municípios da própria região.
Ricardo Salvodi, delegado da Polícia Civil Regional de Crateús, acrescenta a deficiência na estrutura física e de pessoal. Ele relata que o quadro da delegacia é insuficiente para a demanda. "São mais de 200 mil habitantes para um quadro de 12 funcionários nesta delegacia".
O delegado diz que, na maioria das vezes, a Polícia consegue recuperar os animais. "Quando o criador traz pistas e informações, facilita a ação. Os animais roubados geralmente são mutilados pelos ladrões, que cortam orelhas para retirarem a marcação, o que comprovaria a propriedade".
MANUTENÇÃO NA ESTIAGEMConab inicia distribuição de milho hoje. Vendido mais barato, o milho da Conab deve beneficiar um total de 2.600 criadores, para alimentar os animais
Crateús - Hoje, o escritório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de Crateús começa a distribuir milho, através do Programa Venda Balcão, para os 2.600 produtores cadastrados na região. No total, 18 municípios são atendidos pelo órgão de Crateús. Produtores de toda a região aguardavam com ansiedade a distribuição, já que, até o momento, apenas 400 cadastrados haviam recebido o produto.
"E é com o milho da Conab que conseguimos ir alimentando os nossos animais neste período de estiagem", afirma Sebastião Rodrigues, criador em Crateús. A saca com 60kg é repassada pela Conab a R$ 22,14, enquanto o valor de mercado na região está sendo negociada em torno de R$ 32,00.
Eterno retorno
Assim como em outros anos, o criador dos Inhamuns sofre com a mesma situação: falta pasto para os animais e a água está no fim. Obriga-se a abrir mão de algumas cabeças para alimentar as que ficam. O pecuarista corre de um lado para o outro em busca de um restinho de mato para alimentar os animais remanescentes. Em outros casos, acaba-se perdendo todo o rebanho para a seca, ou seja, tenta manter o rebanho e acaba não conseguindo.
Sebastião Rodrigues é um exemplo desse quadro. Cria 60 cabeças de gado na localidade de Passagem Nova, a 30 quilômetros de Crateús e há um mês começou a trazer os animais para a cidade em busca de pasto. A situação na sua propriedade está difícil para alimentar os animais. "Comecei a trazer aos poucos os que estão mais fracos", diz. Conta, inclusive que na última quinta-feira perdeu uma novilha, que não aguentou fazer o trajeto e morreu. Mês passado vendeu cinco cabeças para, com o dinheiro, alimentar as que ficaram. O criador revela também que está gastando em torno de R$ 2 mil por mês para manter o seu rebanho em pé.
"Compro ração e misturo com folha de mutambo, com algum matinho que ainda resta, com arbustos de árvores que caem, somente para irem escapando". E assim vai levando, acreditando que "só Deus mesmo para dar um jeito" de controlar a situação até o final do ano.
Trazer os animais para a cidade não é solução, já que na área urbana também não há pasto. A situação é a mesma da zona rural. Sebastião diz que "pelo menos tem uma sombrinha e é mais arejado".
Os seus animais estão sendo colocados em um terreno ao lado da pista, que conseguiu através de amizades. A esperança do criador reside na chegada do inverno mais cedo este ano e na compra do milho da Conab, que amenizará os seus custos. Revela também que a água para os animais também já está sendo difícil na região. Tem água ainda em alguns açudes e cacimbões, mas já estão poucos. "Para mim este é um dos anos mais difíceis, porque não ficou forragem e agente sofre junto com o gado".
Estoque
O gerente da Conab, Josimar Martins, argumentou que estava estocando uma boa quantidade do produto para atender à demanda e iniciar a distribuição. "O milho vem chegando aos poucos, então juntamos uma grande quantidade para garantir para todos".
O armazém pode estocar até 3 mil toneladas, e encontra-se atualmente com um terço da capacidade. Martins informa que o Governo irá garantir o repasse do milho para os produtores até o final do ano.
Ele mostrou para a reportagem um ofício da Direção Nacional do órgão, enviado a todos os escritórios, referindo-se à suspensão da comercialização de milho pelo Programa Venda Balcão no armazém de Iguatu. O programa foi suspenso após denúncia de irregularidades cometidas pelos produtores, feita em matéria do Caderno Regional. O gerente faz um alerta aos criadores da região dos Inhamuns: "o produto comercializado pela Conab é para consumo animal e não para revenda, o produtor que cometer irregularidades será indiciado".
MAIS INFORMAÇÕES
ASCOCI
Av. Sólon Medeiros, S/N - BR-020
Delegacia de Crateús (88) 3692.3502
Delegacia de Tauá (88) 3437.1888
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Escritório de Crateús
(88) 3691.0095
Silvania ClaudinoEspecial para o Regional
FOTOS: SILVANIA CLAUDINO
Crateús - Além dos problemas provocados durante a estiagem, quando o gado definha por conta da falta de pasto e a escassez de água, os criadores do Sertão dos Inhamuns, de uns anos para cá, se deparam ainda com outra cruel situação: o roubo de animais que vem ocorrendo com frequência na região, de bovinos, ovinos e caprinos. Estes últimos, por serem menores e mais fáceis de carregar, são os mais furtados nas fazendas, sítios e propriedades rurais.
A situação aflige o sertanejo, que muitas vezes acaba entrando em desespero por não encontrar solução. É o que relata o presidente da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos da Região dos Inhamuns, localizada em Tauá, Francisco Elídio Parente. "A situação aqui é sem limites. Furtos de ovinos e caprinos são generalizados, e de bovinos ocorrem com frequência. Tivemos, inclusive, casos de criadores que foram roubados tantas vezes que acabaram adoecendo, entrando em depressão", relata.
Segundo ele, ao perceber as reses a menos, o criador faz rastreamento, busca nas proximidades, e quando não encontram buscam os órgãos públicos de segurança, sem obter êxito sobre o destino das suas crias. E os roubos se repetem constantemente. "Não sabemos o que fazer, onde encontrar solução para essa situação".
A Associação foi criada em 2002 e conta, atualmente, com pouco mais de 100 sócios. Elídio Parente garante que a grande maioria dos associados já sofreu com furtos de seus animais. Semanalmente, segundo ele, ouve-se falar em novos casos na região. Alguns em grande quantidade, outros em menor número. "Levam de 50 animais, de 20, de todo jeito", diz. O próprio presidente da Associação, que cria somente animais de raça em sua propriedade, diz que já foi vítima da ação dos ladrões, por várias vezes.
Maior roubo
Um caso de furto ocorrido ano passado, em abril, chamou a atenção de todo o Estado. Na localidade de Vaca Brava, município de Independência, o criador Odimar Coutinho teve 210 animais levados de uma vez só. Na ocasião, o criador estava de viagem para Brasília e, ao retornar, sentiu a falta de seu rebanho. Procurou na vizinhança e nada encontrou. Ele conta que um parente seu foi assassinado sem motivo aparente, por buscar pistas do roubo. Um dos autores do maior furto de animais da região encontra-se preso em Independência, não pelo furto dos animais, mas pelo crime de homicídio.
O prejuízo de Odimar Coutinho foi maior ainda do que os furtos que estão acontecendo agora, no período de seca, pois na época o gado estava gordo devido ao bom pasto da quadra chuvosa do ano passado. Segundo ele, "casos de roubos são frequentes aqui nesta região e nós precisamos de mais segurança. Queremos estar na nossa propriedade com a certeza de estarmos protegidos".
Além do prejuízo financeiro, Odimar lamenta a perda dos animais em si: "é doloroso perder, de uma vez só, tantos animais que a gente cria e cuida com esforço".
Dificuldades
Regiões com grandes espaços demográficos, poucas informações fornecidas pelas vítimas e medo de represálias, são as maiores dificuldades apontadas pelos órgãos de segurança da região. Segundo eles, estes desafios dificultam as investigações e elucidações dos furtos de animais na região.
"A região é muito grande e recebemos poucas pistas das vítimas", diz o policial civil Macário Mota, da Delegacia de Tauá. Mesmo assim, diz que os furtos diminuíram nos últimos meses em função do trabalho da Polícia, que prendeu três elementos que praticaram alguns furtos na região. "Quando recebemos informações, conseguimos prender". Ele conta que os praticantes dos delitos geralmente são da própria região e vendem os animais furtados nos municípios da própria região.
Ricardo Salvodi, delegado da Polícia Civil Regional de Crateús, acrescenta a deficiência na estrutura física e de pessoal. Ele relata que o quadro da delegacia é insuficiente para a demanda. "São mais de 200 mil habitantes para um quadro de 12 funcionários nesta delegacia".
O delegado diz que, na maioria das vezes, a Polícia consegue recuperar os animais. "Quando o criador traz pistas e informações, facilita a ação. Os animais roubados geralmente são mutilados pelos ladrões, que cortam orelhas para retirarem a marcação, o que comprovaria a propriedade".
MANUTENÇÃO NA ESTIAGEMConab inicia distribuição de milho hoje. Vendido mais barato, o milho da Conab deve beneficiar um total de 2.600 criadores, para alimentar os animais
Crateús - Hoje, o escritório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de Crateús começa a distribuir milho, através do Programa Venda Balcão, para os 2.600 produtores cadastrados na região. No total, 18 municípios são atendidos pelo órgão de Crateús. Produtores de toda a região aguardavam com ansiedade a distribuição, já que, até o momento, apenas 400 cadastrados haviam recebido o produto.
"E é com o milho da Conab que conseguimos ir alimentando os nossos animais neste período de estiagem", afirma Sebastião Rodrigues, criador em Crateús. A saca com 60kg é repassada pela Conab a R$ 22,14, enquanto o valor de mercado na região está sendo negociada em torno de R$ 32,00.
Eterno retorno
Assim como em outros anos, o criador dos Inhamuns sofre com a mesma situação: falta pasto para os animais e a água está no fim. Obriga-se a abrir mão de algumas cabeças para alimentar as que ficam. O pecuarista corre de um lado para o outro em busca de um restinho de mato para alimentar os animais remanescentes. Em outros casos, acaba-se perdendo todo o rebanho para a seca, ou seja, tenta manter o rebanho e acaba não conseguindo.
Sebastião Rodrigues é um exemplo desse quadro. Cria 60 cabeças de gado na localidade de Passagem Nova, a 30 quilômetros de Crateús e há um mês começou a trazer os animais para a cidade em busca de pasto. A situação na sua propriedade está difícil para alimentar os animais. "Comecei a trazer aos poucos os que estão mais fracos", diz. Conta, inclusive que na última quinta-feira perdeu uma novilha, que não aguentou fazer o trajeto e morreu. Mês passado vendeu cinco cabeças para, com o dinheiro, alimentar as que ficaram. O criador revela também que está gastando em torno de R$ 2 mil por mês para manter o seu rebanho em pé.
"Compro ração e misturo com folha de mutambo, com algum matinho que ainda resta, com arbustos de árvores que caem, somente para irem escapando". E assim vai levando, acreditando que "só Deus mesmo para dar um jeito" de controlar a situação até o final do ano.
Trazer os animais para a cidade não é solução, já que na área urbana também não há pasto. A situação é a mesma da zona rural. Sebastião diz que "pelo menos tem uma sombrinha e é mais arejado".
Os seus animais estão sendo colocados em um terreno ao lado da pista, que conseguiu através de amizades. A esperança do criador reside na chegada do inverno mais cedo este ano e na compra do milho da Conab, que amenizará os seus custos. Revela também que a água para os animais também já está sendo difícil na região. Tem água ainda em alguns açudes e cacimbões, mas já estão poucos. "Para mim este é um dos anos mais difíceis, porque não ficou forragem e agente sofre junto com o gado".
Estoque
O gerente da Conab, Josimar Martins, argumentou que estava estocando uma boa quantidade do produto para atender à demanda e iniciar a distribuição. "O milho vem chegando aos poucos, então juntamos uma grande quantidade para garantir para todos".
O armazém pode estocar até 3 mil toneladas, e encontra-se atualmente com um terço da capacidade. Martins informa que o Governo irá garantir o repasse do milho para os produtores até o final do ano.
Ele mostrou para a reportagem um ofício da Direção Nacional do órgão, enviado a todos os escritórios, referindo-se à suspensão da comercialização de milho pelo Programa Venda Balcão no armazém de Iguatu. O programa foi suspenso após denúncia de irregularidades cometidas pelos produtores, feita em matéria do Caderno Regional. O gerente faz um alerta aos criadores da região dos Inhamuns: "o produto comercializado pela Conab é para consumo animal e não para revenda, o produtor que cometer irregularidades será indiciado".
MAIS INFORMAÇÕES
ASCOCI
Av. Sólon Medeiros, S/N - BR-020
Delegacia de Crateús (88) 3692.3502
Delegacia de Tauá (88) 3437.1888
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Escritório de Crateús
(88) 3691.0095
Silvania ClaudinoEspecial para o Regional
FOTOS: SILVANIA CLAUDINO
O armazém da Conab nos Inhamuns encontra-se atualmente com mil toneladas de milho estocados. Repasse está garantido até o fim do ano para alimentar o gado
Fonte: Diário do Nordeste
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