FHC desafia Lula a disputar nova eleição

Do G1, em Brasíla

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebateu nesta segunda-feira (18) as críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito de seu artigo publicado na revista "Interesse Nacional". No artigo, FHC sugeriu ao PSDB evitar disputar com o PT a influência sobre os "movimentos sociais" ou o "povão" e priorizar a nova classe C.
Na última quinta-feira (14), em Londres, Lula disse: "Sinceramente não sei como alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão. O povão é a razão de ser do Brasil".
Em entrevista ao programa "Começando o dia", com o jornalista Alexandre Machado, na rádio Cultura FM, de São Paulo, FHC afirmou que "por razões político-ideológicas, dizem que o PSDB é da elite e o PT é do povo, isso não é verdade. Eu me elegi duas vezes presidente, eu fiz as políticas sociais. Quem começou todos esses programas sociais de bolsa foi o meu governo".
"Agora mesmo o Lula, lá de Londres, está dizendo a mesma coisa, com que moral? O Lula que era contra a privatização está lá falando para a Telefonica, ganhando US$ 100 mil, o filho dele é sócio de uma empresa de telefonia. São contra a privatização, aderiram totalmente às transformações que nós provocamos e ainda vem nos criticar e dizer que nós somos a favor da elite contra o povo e estão mamando na elite", disse FHC.
Na semana passada, Lula viajou à Europa a convite da Telefonica, empresa espanhola que em 1998 comprou a Telesp durante o processo de privatização do sistema Telebrás no governo FHC . Em Londres, Lula deu uma palestra em um seminário da Telefonica para banqueiros e empresários. O ex-presidente também foi à Espanha para receber o 3º Prêmio Libertad Cortes de Cádiz e se encontrar com o primeiro-ministro José Luiz Rodríguez Zapatero.
Durante a entrevista, FHC desafiou Lula para uma nova disputa. "O Lula, lá de Londres, refestelado na sua vocação nova, ainda se dá ao direito de gozar que estudei tanto tempo para ficar contra o povo. Ele se esquece que eu o derrotei duas vezes e quem sabe ele queira uma terceira, eu topo".
"Se ele quiser discutir, debater comigo, eu estou aberto. E não é porque eu tenha estudado. Eu acho lamentável que um ex-presidente da República o tempo todo faça pregação da ignorância, do não estudo, é patético", afirmou FHC.
Classe C
De acordo com FHC, houve um "pinçamento" de partes do artigo para dizer que ele sugeriu ao PSDB esquecer o "povão". "Obviamente, o pinçamento é malicioso, de quem é contra (...) eu não disse isso. Eu disse uma obviedade, que o PT controla os movimentos sociais", afirmou.
"As políticas sociais para os mais carentes, eles [PT]estão utilizando de uma maneira demagógica, eleitoralmente. Então eu disse que enquanto isso for assim, nós [PSDB] não temos os recursos políticos para enfrentar isso, mas existe uma parte enorme do povo, a expressão 'povão' é do PT em geral, que não participam disso e nós temos muito espaço para avançar nesses setores, as novas classes sociais, a classe C. Foi isso que eu disse, uma obviedade", afirmou FHC durante a entrevista.
O ex-presidente disse ter sugerido ao PSDB que fale "com a população para ver quais são seus novos anseios de uma sociedade que é muito mobilizada".
Questionado sobre a reação negativa do PSDB ao seu artigo, FHC afirmou ter recebido declarações favoráveis do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; do senador Aécio Neves (MG) e do ex-candidato à Presidência José Serra. Ele disse ainda que "a celeuma se dá entre os políticos, a população não está prestando atenção a este tipo de briga". FHC concluiu a entrevista afirmando que o PSDB não deve discutir intrigas, mas sim os problemas do povo.

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