Lula articula partidos para 2012

Vera Rosa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é contra a realização de prévias no PT para a escolha de candidatos às prefeituras, em 2012, e já trabalha para evitar a prática. Lula avalia que o modelo com voto dos filiados, tradicional no partido, deixa sequelas na disputa e mais atrapalha do que ajuda na atual temporada de costumes políticos pragmáticos. Em viagens pelo País, Lula já está articulando candidaturas e alianças com o PT.
Em São Paulo, ele está disposto a bancar a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, à revelia do PT. Pouco afeito a gestões políticas, Haddad enfrenta resistências na seara petista.
O empenho de Lula para varrer as prévias do mapa eleitoral não vale só para São Paulo. Ele combinou com a presidente Dilma Rousseff que cuidaria da montagem dos palanques nas principais capitais e enquadraria o PT. Aliancista, Lula avalia que o PT só deve apresentar candidato onde tiver reais chances de ganhar. Caso contrário, recomenda ceder a cabeça da chapa para uma outra legenda.
"Em determinadas situações, precisamos juntar todos os diferentes para enfrentar os antagônicos", diz o ex-presidente. "Quem tem responsabilidade com o projeto nacional faz suas contas olhando para o futuro", observa o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).
Novidade. Em São Paulo, Lula avalia que é preciso um nome novo na praça para enfrentar a "máquina" da Prefeitura, comandada por Gilberto Kassab (fundador do PSD), e também do governo, dirigido por Geraldo Alckmin (PSDB).
Além disso, há o fator Gabriel Chalita, deputado que migrou do PSB para o PMDB e assusta os petistas.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) está na frente nas pesquisas, postula a indicação do partido para concorrer à Prefeitura de São Paulo - que já administrou de 2001 a 2004 - e acha que é a única em condições de derrotar José Serra (PSDB), apesar de enfrentar alto índice de rejeição.
"Serra diz que não vai ser candidato, mas vai. Seria uma boa oportunidade para uma revanche", afirma ela, que perdeu a eleição para o tucano, em 2004.
Marta foi surpreendida pela movimentação de Lula, ficou contrariada, mas não crê que a candidatura de Haddad seja fato consumado. De qualquer forma, não pretende disputar prévia.
Há, porém, quem prometa defender esse método até o fim, caso não haja acordo.
Ex-marido de Marta, o senador Eduardo Suplicy (SP) quer agora concorrer novamente à Prefeitura de São Paulo, cargo que já disputou em 1985 e 1992.
"Por onde passo, todos me perguntam por que eu não sou candidato. Eu me disponho a ser e considero as prévias o mecanismo mais democrático do PT", insiste Suplicy, que praticamente obrigou o ex-presidente Lula a disputar com ele uma dessas primárias para definição do candidato ao Planalto, em 2002.
Trincheira. Na prática, porém, Lula está de olho em 2014 ao promover articulações políticas para a eleição do ano que vem.
"Não basta falar mal dos tucanos na véspera da eleição. Se a gente trabalhar direito, o Estado de São Paulo ficará pronto para a gente governar em 2014 e teremos um palanque forte para a Dilma", afirmou Lula no encontro estadual do PT, em Sumaré (SP), no mês passado.
"São Paulo virou a trincheira da oposição ao nosso projeto nacional e é a nossa prioridade", argumenta o presidente do PT paulista, Edinho Silva.
O PT quer desbancar o PSDB, que ocupa há 16 anos o governo de São Paulo, mas está dividido. Até mesmo o grupo de Marta rachou e dois de seus ex-secretários - os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini - também são pré-candidatos à Prefeitura.
Antes cotado, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, não deve entrar no páreo. Mercadante foi o candidato do PT ao governo de São Paulo em 2010.
Dificuldades. O quadro, porém, não é fácil para o PT nos maiores colégios eleitorais do País.
Além de São Paulo, o partido está cindido em Minas Gerais, não sabe que rumo seguir no Rio Grande do Sul e muito menos em Fortaleza, Recife e Curitiba.
Para completar, o Supremo Tribunal Federal (STF) prevê o julgamento dos réus do mensalão - maior escândalo do governo Lula, revelado em 2005 - para o primeiro semestre de 2012.
O PT teme que o escândalo de 2005 seja ressuscitado, dê munição aos adversários e contamine a disputa.
Em conversas com petistas e com a própria presidente Dilma Rousseff, Lula também prometeu atuar para desmontar o que chama de "farsa" do mensalão. Até agora, porém, o ex-presidente não deixou claro quais serão suas ações e sua estratégia.
Mesmo depois de deixar o Palácio do Planalto, o ex-presidente nunca disse quem o traiu.


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