Professores do Ceará fazem greve de fome

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José Cláudio Monteiro, Laura Lobato e Clésio Mendes afirmaram que só vão beber por tempo indeterminado; Apeoc diz que os professores são livres para aderir ou não à iniciativa
TUNO VIEIRA
Três educadores intensificaram o protesto contra o governo; cerca de 300 pessoas ocuparam a Assembleia
Pelo menos para três professores da rede pública de ensino estadual, que participam de vigília na Assembleia Legislativa do Ceará, o alimento está sendo dispensável. Em greve de fome por tempo indeterminado, desde às 11horas de ontem, os educadores só consomem água mineral e água de coco. Eles pretendem intensificar a manifestação da categoria, chamar a atenção da população e sensibilizar os professores que já desistiram do movimento.

Clésio Silva Mendes, 26, Laura Lobato, 53, e José Cláudio de Lima Monteiro, 49, dizem que só suspendem a greve de fome caso a mensagem do governador Cid Gomes, que dispõe sobre a nova tabela vencimental, seja suspensa. "A atual proposta do governador está pior do que a proposta anterior", afirma Clésio Mendes, professor do Liceu de Maracanaú.

Para Laura Lobato, que leciona no Centro de Atenção Integrada à Criança (Caic) do Bom Jardim, tanto a vigília quanto a greve de fome devem fortalecer o movimento, que vem sofrendo um refluxo.

"O que está em jogo não é somente nossa carreira, mas a própria educação. Nós só suspendemos a greve de fome quando alcançarmos nosso propósito. A gente só sai daqui para o hospital ou para o cemitério", ressalta, acreditando que outros companheiros também deverão aderir ao jejum.

Ficar em greve de fome na vigília, contudo, não é fácil, pois os alimentos trazidos pelos demais manifestantes são verdadeiras tentações. "Pedimos para que os outros professores comam longe de nós", diz José Cláudio Monteiro, educador da Escola Professor Plácido Aderaldo Castelo, no Conjunto Ceará.

Na manhã de ontem, durante ato na Praça da Ceart e na Assembleia Legislativa, cerca de 30 alunos da Escola Antonieta Siqueira, do bairro Jóquei Clube, prestaram apoio aos professores. Com as mãos atadas, eles protestaram contra a proibição do uso de instrumentos musicais durante as manifestações.

Entre os professores, o sentimento é que nunca houve negociação. "O governo coloca algumas propostas, que, se não forem aceitas da forma como ele está impondo, ele ameaça exonerar os professores", declara o professor Pascoal Júnior, 37.

Acampamento
De acordo com Reginaldo Pinheiro, vice-presidente Sindicato dos Professores do Ceará (Apeoc), pelo menos na noite de ontem, cerca de 300 professores estavam acampados na Assembleia Legislativa. Colchões, mochilas, mantimentos e várias faixas de protesto são alguns dos elementos que formam o cenário em frente ao Plenário 13 de Maio.

A intenção do Sindicato, explica Pinheiro, é fortalecer a luta para que a mensagem do governador seja suspensa, que, para ele, é inconstitucional.

Segundo ele, até ontem, a greve, que começou no último dia 5 de agosto, contava com a participação de 40% da categoria. Com a vigília, acredita, vários professores que retornaram às salas de aula devem aderir novamente à paralisação, principalmente os temporários, que, temendo perder o emprego, abandonaram a greve. "A expectativa é que mais 40% voltem", comenta. Em Fortaleza, algumas instituições já tornaram a paralisar, como a Escola Flávio Marcílio, no Pirambu.

Sobre a greve de fome dos três professores, Reginaldo Pinheiro afirma que houve uma reunião entre os integrantes do comando de greve da Apeoc para que os educadores ficassem livre para aderir ou não à iniciativa. "A greve de fome é válida, é uma postura corajosa que funciona como mais um movimento de pressão para que o Governo abra, efetivamente, o canal de negociações", ressalta.

Na noite de ontem, Ciro Gomes, irmão de Cid Gomes e ex-governador, participaria de um evento na Assembleia. Entretanto, segundo a assessoria da Casa, ele não compareceu à solenidade para evitar conflitos.

PROJETO DE LEI
Governador envia à AL tabela de salários para nível médio
O Governo do Estado enviou, ontem, à Assembleia Legislativa, o projeto de lei que cria nova tabela vencimental aos profissionais de nível médio. Mas, para o Sindicato dos Professores do Ceará (Apeoc), a mensagem não atende os anseios da categoria, pois, além de violar a carreira do magistério, gera prejuízos na aplicação da Lei do Piso.

O Sindicato Apeoc avisa que os professores ficarão em vigília permanente na AL para acompanhar a tramitação da mensagem enviada pelo governo.

Insatisfação
Ao tomar conhecimento do envio da mensagem ao Legislativo Estadual, os professores, que ontem realizaram ato público na Praça do Centro de Artesanato do Ceará (Ceart), mudaram a estratégia e, em vez de seguirem para o Palácio da Abolição, foram às pressas à Assembleia Legislativa, com o intuito de evitar que a mensagem fosse votada. "Só a chegada dessa mensagem, sem olhar o conteúdo, já é prejudicial ao processo de negociação que nós estamos dispostos a fazer. Ela mexe com elementos importantes para nós, que somos uma categoria composta de uma única tabela", diz Anizio Melo, presidente do Sindicato Apeoc.

Ele explica que, ao separar o nível médio dos outros níveis, a mensagem modifica a estrutura da carreira, mudando o interstício da categoria. "No seu conteúdo, a mensagem é danosa a nossa carreira. No aspecto político, não responde à necessidade de uma semana que nós consideramos decisiva", ressalta.

Apesar da pressão dos manifestantes, a mensagem foi lida no plenário da Assembleia Legislativa e encaminhada em caráter de urgência, o que significa que ela pode ser votada a qualquer momento. Por causa dos ânimos alterados, o presidente da Assembleia, deputado Roberto Cláudio, determinou a suspensão da sessão.

O deputado Antônio Carlos, líder do governo na Casa, afirmou que Cid Gomes deixou muito claro que iria mandar a mensagem à Assembleia Legislativa para não correr o risco de estar em descumprimento com a Lei do Piso para o nível médio. Com aprovação do projeto de lei, 270 professores irão receber o equivalente a R$ 1.187,00.

"Essa mensagem não tem nada a ver com a proposta global em relação ao Plano de Cargos Carreiras e Salários (PCCS), que estava sendo negociado, e independente da decisão judicial determinando a suspensão da greve, ele (Cid) avisou que iria mandar essa mensagem".

Já o deputado Heitor Férrer (PDT) afirmou que a mensagem surpreendeu não apenas os professores, mas também os parlamentares. "É como se o governador estivesse dando uma tapa na cara da categoria", disse.

RAONE SARAIVA E LUANA LIMAESPECIAL PARA CIDADE/REPÓRTER
 
Fonte: Diário do Nordeste

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