Estádio Fielzão, não será do Corinthians?

Gilberto Nascimento, do R7  
Osmar Stábile, dirigente e candidato a presidente do Corinthians
  • Foto: Marcelo Ferrelli/9.10.2007/Gazeta Press
A evolução das obras do estádio em Itaquera
Osmar Stábile faz parte da atual oposição do Corinthians

O empresário Osmar Stábile, conselheiro vitalício, ex-diretor e um dos principais integrantes do grupo de oposição à atual direção do Corinthians, diz que a criação de um fundo imobiliário (pela BRL Trust) para administrar e gerir o Fielzão, que está em construção no bairro de Itaquera, não garantirá a propriedade do estádio ao clube.

Corinthians será dono do Fielzão daqui a dez anos

- Do jeito que eles estão fazendo, o Corinthians entra com o nome, dá dinheiro para terceiros (os cotistas do fundo) e perde a propriedade do estádio - reclama Stábile.

Ressaltando que o estádio é “irreversível” e que irá se empenhar pela sua construção (“só que de outro jeito”), o conselheiro corintiano afirma que o Corinthians não conseguirá ser o dono do estádio nem no período de 10 anos, ao contrário do que garantiu na quinta-feira (15) o então presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, ao anunciar, em entrevista, sua saída do cargo.

 - Isso é o que o diretor de marketing dele (Luis Paulo Rosemberg) diz e ele acredita. Pelo amor de Deus. Qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que os donos do estádio serão os cotistas do fundo imobiliário. Isso está na lei que criou os fundos imobiliários. Não é questão de opinião. E todo cotista vai querer o seu dinheiro investido de volta, com juros e correção monetária. O Corinthians ficará refém dos investidores. Para recuperar o estádio terá que remunerar – e muito bem – quem investiu - diz Stábile.

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Andrés Sanchez, indicado como novo diretor de seleções da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), admitiu que o Corinthians só poderá ser o dono do estádio, a ser administrado pela empresa BRL Trust Serviços Financeiros, depois que conseguir pagar os cotistas, no período de 10 anos. Essa instituição financeira será a responsável pelo recebimento dos R$ 450 milhões de empréstimo do BNDES.

- O Corinthians e nenhum clube de futebol consegue pegar dinheiro no BNDES sem ter avais pessoais ou de uma empresa. O fundo imobiliário foi a maneira que nós achamos para resolver isso. Conforme a gente for pagando as prestações, com naming rights e arrecadação dos jogos, o Corinthians vai se apoderando das cotas. Então, em oito, sete, em nove ou no máximo em dez anos, que é a validade, o Corinthians será dono 100% do estádio -, disse Andrés.

Ex-dirigentes consideram dívida do estádio impagável

Segundo a diretoria corintiana, o fundo imobiliário não tirará a propriedade do clube e a instituição financeira BRL – responsável pela administração – terá apenas a propriedade fiduciária (a transferência ao credor para garantir que a dívida contraída pelo devedor será paga). O cotista, argumentam, pode ter como ativo a propriedade imobiliária ou o direito relativo à propriedade por um prazo a ser estipulado.

 Mesmo diante dessa explicação, os opositores à atual diretoria - entre eles os três últimos ex-presidentes do Corinthians, Alberto Dualib, Marlene Matheus e Waldemar Pires -, reafirmam a posição de que o clube não conseguirá a propriedade do Fielzão.

- O fundo vai captar recursos para levar adiante a construção do estádio. E o clube terá que pagar os cotistas que vão querer o seu lucro. Se não forem ressarcidos, o imóvel passará ao patrimônio do fundo. Ninguém vai entrar com dinheiro para aplicar se não tiver um retorno e uma remuneração -, explica Waldemar Pires, um especialista na área financeira (é dono da corretória Walpires) e presidente do Corinthians entre 1981 e 1985, durante o período da Democracia Corintiana.

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Dualib, presidente do clube entre 1993 e 2007, aponta outro problema:

- O terreno onde será construído o estádio é da Prefeitura. Como alguém vai por dinheiro num negócio do qual não pode ser o dono?”, questiona o ex-dirigente, hoje com 92 anos.

Stábile ainda observa que o clube não poderá remunerar os investidores com as receitas do estádio.

- Não sou quem diz isso. É a lei. Então, façam uma conta simples comigo. Digamos que os investidores coloquem 450 milhões no Fundo. Menos que isso não será. Poderá ser mais. Certamente, os cotistas vão querer receber, no mínimo, 13, 14% ao ano sobre o capital investido. Faz parte do estatuto dos fundos. Por isso é que vieram para o fundo. Para receber 10% ao ano, eles ficam em aplicações de menor risco. Isso dá mais de 60 milhões/ano. O estádio levará três anos para ser construído. A remuneração acumulada e não recebida dos investidores será, então, em 2014, de mais de 180 milhões de reais. Claro, que os investidores vão querer começar a receber quando o estádio estiver inaugurado. E como Corinthians vai pagar 180 milhões mais o principal, 450 milhões de reais - pelo menos 630 milhões -, mais uma correçãozinha, tudo de uma vez? Se não pagar, continuará dando a remuneração dos cotistas ano a ano. E só. É como se pagássemos aluguel de nossa casa própria -, explicou.

Para Stábile, Rosenberg, o diretor de marketing, teria mentido ao Conselho Deliberativo do clube ao dizer que a construtora Andrade Gutierrez faria o estádio em troca apenas do naming rights (direitos pelo uso do nome, em português).

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