Padre Antônio Maria consola mulher de caseiro,
feita refém em assalto (Foto: Renato Jakitas/ G1)
O delegado responsável pela investigação do assalto ao mosteiro do
padre Antônio Maria em Jacareí, no interior de São Paulo, afirma que a
polícia analisa a participação de frequentadores e moradores do entorno
do local religioso no crime, cometido na quarta-feira (25). Ao menos
seis homens renderam 15 pessoas - entre freiras, funcionários, moradores
e o próprio padre Antônio Maria - e levaram eletrodomésticos, dois
carros e R$ 1,1 mil em dinheiro.feita refém em assalto (Foto: Renato Jakitas/ G1)
Segundo Talis Prado Pinto, delegado-assistente da seccional de Jacareí, chama a atenção dos investigadores o conhecimento demonstrado pelos assaltantes sobre a rotina e as hierarquias estabelecidas dentro do mosteiro.
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“A dinâmica do assalto sugere que os criminosos sabiam quem era quem
dentro do mosteiro. Eles (os criminosos) já devem ter ido às missas,
devem ter conversado com as freiras ou com alguns dos funcionários. Eles
sabiam quem era quem, sabiam que o padre morava naquele ponto, que as
freiras dormiam naquela outra casa e que o zelador ficava em outro
local”, diz Prado Pinto.Além da disposição geográfica das pessoas pelo mosteiro, o delegado também ressalta a maneira como a ação foi conduzida. Após renderem o zelador, os criminosos passaram pela casa onde sete freiras dormiam na noite de quarta-feira e foram diretamente até a casa do padre Antônio Maria, localizada no alto do sítio. Lá, os assaltantes renderam um dos filhos adotivos do padre para, somente depois, imobilizar com cordas o religioso, que teve as mãos amarradas para trás.
“Eles utilizaram o filho pare atrair o padre. Depois, utilizaram o mesmo recurso com as freiras. Fizeram o caseiro bater na porta das freiras dizendo que o padre estava passando mal”, afirma o delegado.
Foi assim que a madre superiora do mosteiro, Rosana dos Santos Coelho, destrancou a porta do mosteiro, onde foi também rendida pelos assaltantes.
“Os criminosos souberam neutralizar os pontos do convento. Primeiro pegaram o padre, depois renderam as irmãs. Eles podem ter conversado com alguém antes para pegar informações do dia a dia do local, que aparentemente conheciam bem”, diz o delegado Prado Pinto.
Freira mostra quarto onde reféns foram mantidos (Foto: Renato Jakitas/ G1)
PerdãoEm entrevista ao G1, o padre Antônio Maria diz que um dos criminosos que invadiu e assaltou o mosteiro perguntou ao religioso se ele será perdoado por Deus.
“Eu estava sozinho com um dos rapazes e ele me desamarrou. Então eu disse: ‘Meu irmão, não sei seu nome e sei que você não vai falar. Mas sou seu irmão e, se você me permite, deixe-me te dar um abraço.’ E ele disse: ‘sim padre’. Fomos um de encontro ao outro. E nesse abraço, que foi de verdade, ele disse: ‘Padre, será que Deus me perdoa?’ Aí eu disse: ‘Filho, claro que Deus te perdoa’.”
O padre Antônio Maria, que também é cantor e escritor, conta que, apesar de ter feito mal às pessoas do mosteiro, prometeu rezar pelos criminosos. “Deus é justo. Vocês estão tocando pessoas que Deus ama muito, que largaram tudo por ele. Mas eu vou rezar por vocês.”
Segundo o religioso, tudo tem uma explicação. “O assalto aconteceu em 25 de janeiro, que é dia de São Paulo, um homem que largou tudo por Jesus. Eu acho que isso aconteceu para que todos nós aqui no mosteiro pudéssemos renovar nossa missão com Deus, a de ajudar ao próximo constantemente."
Carros recuperados
No início da tarde desta quinta, a polícia recuperou os dois carros levados pelos assaltantes do mosteiro. Os veículos foram encontrados a cerca de 30 km do mosteiro, em bairros próximos. O primeiro foi encontrado às 7h30 no Jardim Maria Amélia e o segundo, às 14h30, no Jardim Colônia. Os bairros se localizam na periferia da cidade. Ainda segundo a polícia, os carros seguiram para perícia.
Todas as vítimas do crime já foram ouvidas na delegacia. Foram apresentadas ao padre Antônio Maria fotos com prováveis suspeitos, moradores da região, mas ele não conseguiu apontar os autores do assalto.
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