Política Barro: Nota de Falecimento

Retirado da Comunidade Sou do Barro e Daí -  Autor Rodrigo Júnior


NOTA DE FALECIMENTO

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Barro, um dia qualquer desta segunda década do século XXI - Pareceu hoje, Dona Política Democrática do Bem Comum, após lenta agonia. Causa mortis: falência múltipla de órgãos, após septicemia generalizada. Nesta etapa terminal, seu Executivo só executava a sangue frio, o Legislativo legislava apenas em causa própria, e o Judiciário tardava e falhava. A infecção no regime representativo era crônica. Dona Política, alguns anos antes de morrer, já exalava, em seu bem equipado quarto de maribunda, um cheiro insuportável. As despesas com longa internação e o sepultamento foram pagas por grandes conglomerados privados, a maioria do setor financeiro.
Ao velório de Dona Política compareceram altas autoridades do município. O Prefeito deu animada entrevista para correligionários, puxa sacos, babões, dizendo-lhe conhecer a sua trágica vida desde os tempos da Grécia Antiga, quando era considerada amiga fiel de todos, à exceção dos escravos, mulheres e dos estrangeiros.
Ex- Prefeitos de sábias cabeças brancas, contristados, confabulavam no velório. O momento de nojo (como eles continuam a denominar o luto) fez com que notórios adversários de ocasião, que tinham protagonizado recente duelo para provar quem era mais canalha, ficassem lado a lado e até trocassem algumas ideias.
Vereadores de esquerda e de direita também compareceram. Ás lágrimas sinceras pelo passamento de Dona Política Democrática não duraram muito: logo foram secando e a perplexidade deu lugar a um inusitado conformismo na linha do "a vida é assim mesmo" e "deus sabe o que faz". "O jeito é seguir em frente e nos acostumarmos com sua ausência", disse um vereador que fora líder estudantil há 30 anos, com, seu corpo de 30 quilos mais pesado.
Coroas de flores abarrotavam a capela. As mais vistosas eram assinadas por grandes empresários, médicos que pleiteiam um dia ser gestor municipal.
Comunicadores de elevada audiência nas suas rádios dominadas pelo sistema bruto e fascista, explicam que a morte era esperada... 

Pois Dona Política, idosa e "jurássica como a ideia de nação", já não cumpria função relevante para o crescimento do município. O sepultamento será no jazigo perpétuo da família Camaleão (aquela oligarquia pluriétnica, que muda de cor conforme a situação, e sub-étnica, com moral de ocasião) no poder...

...a alguns anos. No livro de condolências encontrou-se, sem assinatura, uma estranha mensagem: "O povo um dia saberá escolher e evitar abuso de poder e de autoridade nesse município". por que a Dona Política do Bem Comum ainda permanece viva e cheia de energia em algum lugar da zona rural, na força sindical, nas comunidades pobres que se organizam, nas escolas na mente e no coração de alguns jovens, na solidariedade dos desvalidos, naqueles como eu que mantém a utopia comum de novas e fraternas relações humanas e sociais. 

realidade cruel de como é e de como funciona!