Do G1 SP, com informações do Fantástico

A reportagem do Fantástico entrou na cena de um crime: o apartamento duplex do casal Matsunaga, na Zona Oeste de São Paulo. Um vídeo inédito obtido com exclusividade pela reportagem do Fantástico mostra a reconstituição do assassinato do empresário Marcos Matsunaga, executivo da empresa de alimentos Yoki, morto há três meses. As cenas foram gravadas 18 dias depois do crime.
Elize Matsunaga, a assassina confessa, retornou à casa onde morava com o marido e a filha. Na sala, ela contou ao perito criminal, Ricardo da Silva Salada, os detalhes de como matou o empresário Marcos Matsunaga, com um tiro na cabeça, um crime sem testemunhas.
O vídeo mostra o começo da reconstituição. Elize está sentada na mesa de jantar. Minutos antes do crime, ela e o marido se preparavam para comer uma pizza. No papel de marcos estava um policial civil. Com calma e voz baixa, Elize só respondeu o que lhe foi perguntado.
Confira os diálogos:

Perito
: “Você começou falando dele do detetive, né?”
Elize: “É, que eu tinha descoberto.”
Perito: “Você tinha descoberto a traição dele? Você falou para ele que tinha contratado um detetive particular?”
Elize: “Aí, ele ficou alterado, falou que eu...”
Perito: “O que que ele fez? Ele estava sentado? Ele ficou quieto, ele levantou? Bateu na mesa?”
Elize: “Isso. Perguntou como eu tinha a audácia de fazer aquilo com o dinheiro dele.”
Perito: “O que que ele fez, assim?”
Elize: “Ele bateu na mesa e levantou.”
Perito: “E depois? O que aconteceu?”
Elize: “Aí, a gente começou a discutir, ele começou a me xingar e aí me deu um tapa.”
Perito: “Você estava sentada?”
Elize: “Não, eu levantei.”
Perito: “Ele estava aí quando te bateu?”
Elize: “Foi.”
Na versão de Elize, depois de levar um tapa, ela saiu da sala de jantar.
Perito: “E aí?”
Elize: “Aí, eu fui para lá, no armário.”
Perito: “E ele?”
Elize: “Ficou ali me xingando. Depois veio atrás.”
Perito: “Ele veio por aqui?”
Elize: “Eu não sei.”
Elize caminhou até o bar, pegou a pistola na gaveta. A arma usada na reconstituição é de madeira. Ela percebe que Marcos vem em sua direção.
Perito: “Assim, como se você estivesse olhando ele vindo?”
Elize: “Isso, mas ele não estava aparecendo. Eu só ouvi.”

O perito criminal insiste nos detalhes.
Perito: “Aí, você foi caminhando até onde? Onde que você viu ele? Que você estava caminhando que você viu ele?”
Elize: “Não, eu ouvi, aí eu fui para cá.”
Perito: “Quando você virou, você viu ele, ele estava onde?”
Elize: “Aí.”
Perito: “Aqui. Ele estava caminhando ou estava parado?
Elize: “Estava parado, porque eu acho que ele viu que eu estava com a arma.”
O policial que se passa por Marcos mostra quais foram os últimos passos da vítima, na versão de Elize.
Elize: “Aí, eu apontei a arma para ele.”
Perito: “Então aponta a arma para ele.”
Elize: “Aí ele começou a falar que eu não tinha coragem para fazer isso, enfim, e continuou vindo.”
Segundo Elize, o assassinato foi no corredor, na entrada do apartamento.
Perito: “Ele foi até onde?”
Elize: “Aí a gente continuou discutindo. Aí, eu fui dando passo para trás e ele veio vindo devagar.”
Ela contou que atirou na cabeça do marido.
Elize: “Eu acho que foi aí. Aí eu acertei.”
Perito: “Acertou. Nesse momento houve o disparo?”
Elize: “Isso.”
O perito quer saber mais.
Perito: “Ele veio vindo e como é que estava a tua arma?”
Elize: “Eu estava apontada já. Mas não sei se ele viu antes.”
Perito: “Você falou que atirou mais ou menos dessa distância aqui?”
Elize: “Isso.”
Na história que Elize conta, ela estava a um metro e noventa e quatro centímetros de Marcos na hora do tiro. Essa distância foi medida pelos peritos.
Perito: “Ele te olhou olho no olho?”
Elize: “Foi.”
Perito: “E aí você atira nele nesse momento?”
Elize: “É.”
O perito quer saber por que Elize matou o marido.
Perito: “Você fez uma coisa que ele estava com raiva e aí começou a te xingar. Você pegou a arma, ele ficou mais bravo ainda de repente. Foi isso que aconteceu?”
Elize: “Foi.”
Perito: “Ele começou a te desafiar. Foi isso?”
Elize: “Foi. Ele falou que era para eu ir embora para minha família de b... Que era para eu deixar a filha dele aqui.”
Elize diz quais foram as últimas palavras de Marcos.
Perito: “O que que ele te falou que você não aguentou mais essas palavras?”
Elize: “Falou que ia provar que não tinha condições de ficar com a minha filha e nunca mais ia vê ela.”
Perito: “Você a chegou a ver os olhos dele quando ele falou isso?”
Elize: “Sim, ele falou com raiva.”
Perito: Você chegou a fazer mira nele?”
Elize: “Não, sei lá! Acertei...”
Perito: “Atirou?”
Elize: “É, atirei.”

As dúvidas continuam.
Perito: “Na hora que você foi atirar, que você fez assim para atirar, o que que você viu na cara dele?”
Elize: “Ódio.”
Perito: “Ódio nele?”
Elize: “Ele estava me tratando como se fosse um lixo.”
Perito: “Você se sentiu ameaçada?”
Elize: “Senti, porque ele estava vindo para cima de mim.”
Perito: “Ele já tinha te batido, né?”
Elize: “Sim, eu achei que ele fosse fazer alguma coisa, pegar a arma, me bater de novo.”
Perito: “Podia até tirar a arma da tua mão, né?”
Elize: “Sim.”
Perito: “Você pegou aqui e pum?”
Elize: “É.”
Perito: “Você não foi assim visado.”
Elize: “Não, eu atirei, porque ele estava vindo para cima.”
Perito: “E aí, o que que aconteceu?”
Elize: “Aí, ele caiu.”
Perito: “Você se lembra como ele caiu? Ele caiu para frente, ele caiu para trás, ele caiu para o lado?”
Elize: “Caiu para trás.”
A polícia usou um boneco no lugar de Marcos para reconstituir o passo a passo do crime.
Perito: “O que você fez?”
Elize: “Eu dei a volta por lá...”
Elize caminha pela sala. Coloca a arma em cima de uma mesa. Ela diz que pensou em ligar para polícia.
Elize: “Eu cheguei no telefone, mas não chamei. Eu ia ligar e desisti.”
Perito: “E depois?”
Elize: “Depois eu fui lá, peguei a arma e guardei.”
Ela refaz os movimentos daquela noite. Guarda a pistola em uma sala onde o casal tinha uma coleção de armas. Em seguida, volta para perto do boneco simulando o corpo de Marcos.
Elize: “Fiquei aqui parada um pouco. Não sabia o quê que eu ia fazer.”
Perito: “E, aí?”
Elize: “Fui na lavanderia peguei um pano e limpei.”
Elize pega o material de limpeza.
Elize: “Coloquei água e fui para lá.”
Ela mostra como tentou apagar os vestígios do crime.
Elize: “Tinha muito sangue aqui. Eu limpei um pouco.”
Perito: “Depois da lavanderia o que que você fez?”
Elize: “Eu não lembro se eu subi, se eu fui para o escritório. Eu fiquei perambulando.”
Dez horas depois Elize tomou a decisão: esquartejar o corpo do marido.
Elize: “Depois, eu vim e arrastei ele.”
Perito: “Vai lá. Pega... Como é que você fez?”
Elize: “Peguei pelo braço.”

Antes de arrastar o corpo, Elize tirou o tapete do caminho. Depois afastou uma cadeira e outro tapete. Carregou Marcos devagar e foi parando pelo caminho. Ela passa pelo corredor até chegar ao quarto de hóspedes.
Elize: “Eu fiquei pensando o que ia fazer. Aí, não sabia se ia ligar para polícia, se não ligava. Ficou um tempo aqui.”
No final, Elize confirma onde esquartejou o marido. O vídeo termina, mas nas fotos do laudo oficial, divulgado esta semana, Elize apontou onde fez os cortes. Depois, colocou os pedaços do corpo em três malas e saiu para jogá-las na região de Cotia.
O promotor do caso contesta a versão de Elize e lembra que o exame feito no corpo de Marcos indica que ele levou um tiro à queima-roupa e de cima para baixo.
“O laudo de exame de corpo e delito que diz que o tiro foi a curtíssima distância em razões das lesões, das queimaduras, do chamuscamento. Então não foi a dois metros como ela disse. Ela matou essa distância curta significa que ele não teve a menor condição de defesa, é essa a questão”, disse o promotor José Carlos Consenzo.
Para ele, a proximidade do tiro prova que Elize planejou o crime e matou Marcos de surpresa. “A motivação para mim é extremamente clara. Ela não queria acabar o casamento e não queria ficar pobre. Ponto”, afirmou o promotor.
A conclusão do laudo da perícia no apartamento confirma a versão de Elize. Nas fotos, os peritos mostram as marcas de sangue de Marcos, por onde Elize arrastou o corpo.
Para o advogado de defesa, ela não mentiu ao contar todos os detalhes de como matou o marido. Luciano Santoro afirma que o outro laudo, o do corpo da vítima, não é preciso.
“O legista fala que o tiro foi de cima para baixo. Mas qual angulação? Ele não aponta para gente se é uma angulação amena, que tipo de angulação que é? Nós estamos falando de 5 graus, nós estamos falando de 90 graus? Isso tudo influencia.”
Fantástico: “A Elize matou o Marcos por quê?”
“A Elize matou Marcos porque ela não aguentou. Ela não aguentou as ofensas que ela sofreu. Essas agressões foram aumentando com o tempo. Então, ela, sobre a influência de uma violenta emoção respondeu aquela provocação dele..”
O processo contra Elize Matsunaga entra agora numa fase decisiva. O juiz do caso vai ouvir as testemunhas de defesa e acusação. Ele deve interrogar Elize no mês de outubro em um fórum na Zona Norte de São Paulo.
A previsão é que o julgamento aconteça no primeiro semestre do ano que vem. Se condenada, ela pode pegar até 30 anos de cadeia.
Assassina confessa, ela diz que só tentou se defender. “Ele estava me tratando como se fosse um lixo. Eu atirei porque ele estava vindo para cima.”

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