Investigada pela Polícia Civil de São Paulo como suspeita de assassinar o marido há um mês, uma empresária de 28 anos alega estar sendo injustiçada e conta como matou o representante comercial de 33 anos. Para o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), o crime foi premeditado, mas para a mulher tudo não passou de “legítima defesa.”
Indiciada por homicídio doloso qualificado, quando há intenção de matar e por não ter dado chance de defesa para a vítima, Andressa Ramos de Araujo contou que só atirou em Sergio Francisco para se defender. Ela ainda não contou ao seu filho de 4 anos que matou o pai dele.
A mulher alegou que, assim que descobriu a traição do marido, foi xingada de ‘gorda’ e acabou agredida por ele. Com medo, disse ter pegado uma arma numa gaveta e atirado. O caso ocorreu na madrugada do dia 24 de janeiro na residência do casal, na Zona Leste. A arma do crime foi descartada pela acusada e ainda não foi localizada.
“Foi um disparo acidental”, alegou Andressa, que aceitou dar a entrevista sob a condição de que seu rosto não fosse mostrado. Ela responde pelo crime em liberdade.
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Após matar o marido, a mulher arrastou o corpo dele com uma coberta até um cômodo para que a criança não o visse. Chegou a colocar a casinha do cachorro na frente de Francisco. No rosto dele, um saco preto. Saiu da casa, ligou para um advogado, que acionou a Polícia Militar. Cinco dias depois, se apresentou ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Para a investigação, Andressa pode ter premeditado o assassinato de Francisco, planejando o crime.
A motivação ainda é apurada, mas parentes e vizinhos da vítima disseram à polícia que a empresária é "possessiva" e já havia batido no marido em público antes por "ciúmes".
Andressa nega. Na sua versão, o marido chegou bêbado em casa, a chamou de “lixo”, expulsou ela da cama, confirmou que estava tendo um caso extraconjugal e ainda a agrediu com socos. A acusada disse ter visto mensagens da suposta amante no celular dele, que confirmavam a traição.
“Ele chegou embriagado, gritando: ‘hoje eu é que vou dormir na cama. Sai daí’. Depois vi os ‘torpedos’. Em seguida, gritou para eu parar de mexer nas coisas dele. Então eu perguntei se era isso o que ele fazia enquanto trabalhava e cuidava do nosso filho e de nossa casa”, disse Andressa.
O teor do relato da indiciada à reportagem é quase o mesmo que ela deu ao DHPP. “Ele falou que eu não sabia me cuidar. Me chamou de gorda e por isso buscava outras mulheres na rua”, disse a mulher, que alega ter jogado a arma fora após o crime.
O laudo da Polícia Técnico-Científica ainda não ficou pronto, mas peritos informaram que o disparo fatal atingiu a cabeça da vítima. Um tiro perto da nuca, muito preciso, o que fez a polícia desconfiar da versão de Andressa de que o disparo foi acidental.
"Ele me viu e falou que iria me matar. Depois escutei um disparo e me escondi. Não tive intenção de matá-lo. Foi uma tragédia. Acabei com a minha vida e a do meu filho. Por isso, peço perdão à família dele pelo que ocorreu. Estou arrependida, mas não tenho culpa", afirmou Andressa.
“Eu tive medo dele tirar a arma de mim e me matar. A arma nem era minha. Com certeza era dele porque estava na gaveta dele"
Andressa Araujo, casada 14 anos com a vítima
Procurado para comentar o assunto, o advogado de Andressa, Davi Gebara Neto, afirmou que “se a vítima não tivesse levado a arma para dentro da casa, nada disso teria acontecido”.
A reportagem também tentou entrar em contato com a família da vítima e com o advogado que a representasse, mas não conseguiu localizá-los.
Segundo a delegada Jamila Jorge Ferrari, do DHPP, o inquérito que apura o assassinato de Francisco ainda não foi concluído porque faltam laudos do Instituto de Criminalística (IC) e IML (Instituto Médico-Legal) para serem anexados.
“Ela alega legítima defesa, mas estamos investigando se o crime foi premeditado. A relação entre seres humanos estão corroídas. Por mais que um casal tenha brigas e discussões, acho que não pode chegar ao ponto da morte. O casal tinha um filho de 4 anos. A que ponto o ser humano chega. Isso não é amor, é uma coisa corrosiva”, disse a delegada Jamila, que aguarda os peritos marcarem a data para a reconstituição do crime.
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