ARTIGO: “O heroísmo das parteiras tradicionais”, por Romero Cardoso
Publicado em 25.04.2013
O isolamento e a ausência da ação do Estado em diversas regiões do globo tornaram imprescindível o trabalho das parteiras tradicionais, sendo a maioria detentora de conhecimentos empíricos transmitidos de geração a geração, pois a preservação das técnicas de como realizar partos de forma mais eficiente possível vem possibilitando a salvação de inúmeras vidas nos quatro cantos do mundo, razão pela qual o cinco de maio é internacionalmente dedicado a essas heroínas anônimas.
Embora percentual majoritário de quem dedica-se ao trabalho de viabilizar a vinda de uma nova vida ao mundo seja do gênero feminino, existem registros em diversas regiões de parteiros realizando essa missão humanitária.
A zona rural é tradicionalmente desassistida pelos programas de saúde, motivo pelo qual as parteiras ainda exercem forte influência nas sociedades tradicionais quando mulheres começam a demonstrar os sinais inconfundíveis de que estão prestes a ter seus filhos, principalmente quando os partos se mostram complicados.
Esquecendo os perigos que rondam a calada das noites, concentradas apenas na certeza de que a presença imediata é indispensável, as profissionais leigas não medem distância a fim de enfatizar seu ofício intuindo salvar vidas.
Técnicas em grande proporção eficientes, aprendidas com antepassados, são postas em prática e, dependendo do caso, logo alcançam o objetivo que fizeram das parteiras tradicionais figuras respeitadas em suas comunidades, não obstante a imensa maioria não desfrutar de melhores qualidades de vida, vivendo em condições semelhantes às famílias que assiste.
Gonzagão, embora desgostando a viúva do autor da música, devido as modificações profundas que realizou na canção, imortalizou a importância dessas heroínas anônimas interpretando com invulgar perfeição “Samarica parteira”, composição fruto da genialidade de Zé Dantas, o qual como médico obstetra, nativo do semiárido, nascido em uma região carente e esquecida do sertão pernambucano, sabia perfeitamente das dificuldades que a sertaneja enfrenta devido a ausência de profissionais da medicina, fato que infelizmente persiste até os dias de hoje.
O trabalho realizado pelas parteiras tradicionais no nordeste brasileiro também é marcado pelas superstições, tendo em vista que muitas dessas profissionais práticas se inspiram no ciclo lunar para poder realizar partos.
A religiosidade também se faz presente, pois oração como a Salve Rainha é feita antes de começar o trabalho de assistir as mulheres nos partos. Caso a parteira erre a reza significa que a parturiente deve ser imediatamente conduzida para lócus apropriado que disponha de condições suficientes para evitar que mãe e filho/a não sejam salvos.
Regiões extremamente carentes no setor de saúde, a exemplo do Norte e do Nordeste, ainda contam de forma expressiva com o trabalho das parteiras tradicionais para realizar partos em mulheres.
Heroínas anônimas, indispensáveis na ênfase em salvar vidas, as parteiras tradicionais precisam ser reconhecidas e valorizadas em razão do grande trabalho social que vem exercendo ao longo dos séculos, sobretudo quando se intensificam as diferenças inter-regionais em razão que as diferenças ainda não foram solucionadas, principalmente na área de saúde, a qual deve nortear prioridade de forma democrática e humana em qualquer plataforma governamental que obrigatoriamente deva prezar o bem-estar da população em sua totalidade.
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