LOUIS JACQUES BRUNET: O FRANCÊS AVENTUREIRO EM SUAS EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS. Por: CLEMILDO BRUNET

LOUIS JACQUES BRUNET: O FRANCÊS AVENTUREIRO EM SUAS EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS.
Clemildo Brunet (foto)
CLEMILDO BRUNET*
 
Louis Jacques Brunet o francês e médico naturalista da cidade de Moulins, quando aportou aqui no Brasil em 1852, não era nenhum desconhecido na França, sua intenção inicial seria explorar a flora e a fauna dos países da América do Norte. Era uma viagem que pretendia fazer com um amigo na qual lhe custaria uma fortuna. De repente num lance de aventura resolveu embarcar no primeiro navio à vela com escala por Pernambuco. Descendo em terra, deixou-se seduzir pela paisagem pernambucana, renunciando dessa forma outras regiões que pudesse conhecer.
Ele foi contratado em 1853, pelo presidente Sá e Albuquerque para “observar a posição geográfica dos principais pontos da Província; direção, curso, volume, temperatura das águas, sua composição química, quando elas apresentam propriedades particulares; estado higrométrico e temperatura da atmosfera. Inclinação e declinação da bússola, suas variações diárias”. Segundo o escritor José Américo, o plano foi sugerido naturalmente pelo francês e, comportava uma série de observações que, nem todas, com algumas reservas, só tiveram início, na Paraíba, decorridos mais de 50 anos.
"Em fins de 1852, chegou a Areia, em missão exploradora, o naturalista francês Louis Jacques Brunet, homem de grande ilustração e amigo de Leverrier, de Lamartine, de Dumas pai e outras celebridades da ciência e das letras. Ouvindo falar tanto e com tamanha admiração do pequeno Pedro Américo, quis conhecê-lo pessoalmente e foi procurá-lo à casa paterna.
 
Brunet e o jovem Pedro Américo (Gravura)
 
“Tinha o precoce desenhador menos de dez anos; sua timidez habitual cedeu prestes o lugar à confiança que lhe inspiraram as maneiras insinuantes e as palavras bondosas do sábio explorador, assim como ao interesse que, no seu juvenil espírito, despertou uma pequena coleção de gravuras - cópias de quadros célebres -, que lhe mostrara o estrangeiro, e que ele pôs-se a contemplar cheio de pasmo.
"Depois de examinar atentamente diversas paisagens e retratos feitos pelo pequeno, quis o Sr. Brunet certificar-se da verdadeira habilidade deste, para o que, fê-lo desenhar, do natural, um chapéu, uma espingarda e diversos outros objetos, que Pedro Américo reproduziu fielmente. Então, manifestou o naturalista o desejo de levá-lo em sua companhia como auxiliar, cujo concurso ser-lhe-ia precioso para os estudos que ia empreender.
Como era natural, sentiu-se o Sr. Daniel Eduardo lisonjeado, mas de certo não acreditaria na sinceridade daquela proposta se, poucos dias depois, não fosse consultado pelo presidente da Província, Dr. Sá e Albuquerque, a respeito do seu consentimento na nomeação de Pedro Américo para desenhador da comissão exploradora, da qual era chefe aquele distinto naturalista.
Quando Pedro Américo soube da notícia e do consentimento paterno, - diz Luís Guimarães Júnior - sentiu-se crescer cinco palmos, de súbito. - Explorar a província!, exclamava ele consigo, sem poder dormir uma hora, na véspera da partida. Ver árvores que nunca vi; grotas escuras e cheias de rumores desconhecidos; pássaros novos, cantos, harmonias, borboletas, mistérios da natureza luxuosa e esplêndida! - No desempenho dessa missão, que durou vinte meses, atravessou, com o Sr. Brunet, que se tornara seu amigo e apreciador, toda a província da Paraíba e parte das de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí.
O Museu de História Natural do Ginásio no Recife considerado um dos melhores no ensino secundário do Brasil, foi organizado por Louis Jacques Brunet, professor da 2ª cadeira de ciências naturais.
Museu de História Natural Louis Jacques Brunet – Centro de Ensino Experimental Ginásio Pernambucano – CEEGP. (Foto) -Coleções nas áreas de arqueologia, Botânica, Geologia e Zoologia, organizadas pelo naturalista e professor francês Louis Jacques Brunet, em 1861. Visitas por agendamento. Rua da Aurora, 703, Santo Amaro – Recife/PE. Fones (81) 3303-5315 / 3421-7427.
Durante os dois anos que precederam seu convite para participar do corpo docente do Ginásio (chamado à época de Ginásio Provincial), Brunet viajou pelo interior dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, coletando amostras de espécimes nativas. Em outubro de 1855, Brunet foi nomeado como professor da 2ª cadeira de Ciências Naturais, ficando a seu cargo toda a estruturação desta disciplina, assim como a organização do gabinete de Ciências, fundado em 22 de outubro de 1855 (recebendo, a princípio, as próprias coleções coletadas pelo naturalista em suas expedições). Segundo o professor, o ensino das Ciências deveria ser composto de lições práticas e objetivas, no qual os alunos pudessem contemplar o objeto estudado.
Então, em um ofício de sete de abril de 1856, Brunet sugeriu uma mudança na grade de estudo (o 1º ano estudaria Zoologia, o 2º Botânica e o 3º Mineralogia e Geologia). Devido aos incentivos recebidos, tanto pelo regedor do Ginásio como pelo governo imperial de D. Pedro II e o de Barbosa Lima (Grande entusiasta das ciências) é deste último que vai partir a idéia de se criar um Museu de Ciências Naturais, o primeiro de Pernambuco e do Norte/Nordeste.
Anos se passam e o Ginásio é uma referência na educação do Norte/Nordeste brasileira, e com a entrada de outro francês, em fins da década de 1960, para o corpo docente, responsável pela cadeira de história natural e pelo seu gabinete, Armand François Gaston Laroche, vai com sua paixão pela Arqueologia, contribuir com espécimes pré-históricos encontrados no município de Belo Jardim – PE, que vão configurar como os mais importantes do museu, durante os anos de 1970 –1978, período no qual o professor Laroche trabalhou em suas pesquisas. O Gabinete de Ciências se destaca como um dos locais de referência para pesquisas científicas no estado.
No Boletim Informativo de nº 37 ano IV – Edição Especial, da Sociedade Paraibana de Arqueologia com sede em Campina Grande – PB, consta a seguinte referência ao cientista Francês.
Quem de fato primeiro registrou para a história os sedimentos cretáceos do Rio do Peixe foi o naturalista francês Louis Jacques Brunet, que em 1854 coletou amostras de calcário no Vale. Não há referências de Brunet sobre as pegadas fósseis, no entanto dificilmente tais registros escapariam ao espírito científico atilado deste pioneiro que dominava com muita perícia as áreas da geologia e da paleontologia. Na verdade, muito pouco do que Brunet anotou em suas expedições científicas pelo Nordeste chegou até nós, além de fragmentos de seus escritos e algumas citações de estudiosos da época. No entanto uma coisa é certa: Brunet passou um considerável tempo no vale do Rio do Peixe em estudos, pois foi nesta região que encontrou a senhora Custódia de Sá, com quem se casou.
Segundo a história, Louis Jacques Brunet nasceu na França, por volta de 1811. Já viúvo quando chegou ao Brasil e trazia em sua companhia o filho Charles Theobald Brunet, oficial reformado do Exército francês. A sua chegada a Paraíba em junho de 1853 foi comunicada ao Ministro do Império pelo Presidente da Província Antonio Coelho de Sá e Albuquerque que o apresentou como “naturalista de bastantes conhecimentos e habilidades viajando a própria expensa”. Logo o Governo Imperial apressou-se em contratá-lo para as expedições científicas.
A chegada a Souza é um capítulo a parte ligada intimamente a tradição daquele município. Contam que após um dia de fatigantes caminhadas, deparou-se-lhe o panorama da Várzea dos Martins. Confinaram-se a alma e o corpo no anseio de alento reparador e ali resolveu demorar-se para repouso. A presença do estrangeiro fez com que os vizinhos afluíssem para ali. Os olhos de Brunet, afeitos à beleza natural que o circundava, não foram indiferentes à graça da mulher sertaneja que o empolgou de tal maneira pelos seus atrativos, pois, ao deixar a família que o abrigara, já estava socialmente ligado a ela por um compromisso de casamento.
Tendo que se ausentar de Souza foi para Assu, onde realizou pesquisas mineralógicas que lhe deram o mérito de precursor da exploração de gesso, o que atualmente se constitui num dos fatores econômicos do engrandecimento de Mossoró. Explorou ainda o interior cearense, preso a sua atividade não deu conta do tempo para chegar a Souza e cumprir com a palavra empenhada com relação à data que havia marcado o casamento. Nem por isso deixou de cumprir o prometido, casando-se por procuração no dia 04 de novembro de 1854, com Custódia Francisca de Sá Barreto, tendo como procurador o deputado provincial Comandante Superior José Gomes de Sá Júnior parente da noiva.
Ao retornar a Souza o naturalista francês integrou-se a comunidade, como médico, atendendo com a sua terapêutica esdrúxula à enorme parentela, procurando cada vez mais firmar os laços em família, casou o filho Charles com a cunhada, Francisca Gertrudes de Sá Barreto. Deste casamento veio a perpetuação da geração que se espalhou por diversos municípios sertanejos.
Quanto a Louis Jacques Brunet atraído pelas informações das lendárias minas de prata do sertão baiano, abandonou o solo onde fora adotado. Contudo, levou na naturalidade da mulher e dos filhos a perpétua lembrança de seu nome. Pouco se sabe sobre o fim de seus dias, a não ser a versão de que se findara no Peru.
O filho Charles ficou preso à terra sousense, em cujo seio repousou para a eternidade, deixando a filharada que se desenvolveu dando maior amplitude ao apelido; dentre eles, o Dr. Manuel Brunet, o primeiro sousense que se formou em Engenharia Civil e foi Diretor de Obras Públicas em Pernambuco, onde seu nome é lembrado como o pioneiro da cultura agavieira.
Segundo o escritor e pesquisador Vingt-Um Rosado, “Os Brunet nordestinos e brasileiros são uma conseqüência da Expedição de 20 meses, descendentes todos do filho de Louis Jacques Brunet, Charles Gilbert Teobald Brunet, chegado da França em data posterior a 1854”. Os dados genealógicos extraídos do “Família Nóbrega” de autoria do agrônomo Trajano Pires da Nóbrega, (saudosa memória) registra nomes dos descendentes do filho do naturalista francês. Entre muitos outros descendentes, constam:
Olindina Ramalho de Sá Brunet casada com Julio Rabelo de Sá nascido em 29-10-1885 e falecido em Pombal a 30-07-1934, pais de: Napoleão Brunet de Sá nascido em 17-11-1906, comerciante em Pombal, casado com Maria de Sá Brunet, filha de Carlos Rabelo de Sá e D. Hercília Umbelina de Sá. Pais de: Clovis Brunet de Sá, Carlos Brunet de Sá, Claudio Brunet de Sá, Claudete Brunet de Sá e Clemildo Brunet de Sá.
Louis Jacques Brunet nascido em Moulins em 1811 era Professor de História Natural e Música em Bazas (1835) chegando a Pernambuco em 1850 casado com Custódia Francisca de Sá Brunet, nascida em 1832, em segundas núpcias. (anotação de Lucien Pouessel)
Olívio Montenegro, em uma carta a Vingt-Un Rosado fez essa observação: “Sobre Brunet li muita coisa, mas em mensagens do governo, relatórios e outros papéis que rebusquei em arquivos do próprio ginásio e nos arquivos também da Assembléia Estadual, e ainda na Biblioteca Pública... Aliás muitos desses papéis já se esfarelavam só em pegá-los”. E arrematou: “Isto é muito do Brasil: O maior desprezo por todas as coisas que interessam à cultura, que toquem a inteligência do homem. Sobretudo em círculos oficiais”.
(pesquisa e adaptação: 2ª Edição - Louis Jacques Brunet Naturalista Viajante - Vingt-Un Rosado, Antonio Campos Silva e outras fontes).
Natal, 17 de março de 2010.
*RADIALISTA.
 
Postado por: José Romero Araújo Cardoso

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