Seca castiga Nordeste


O período de estiagem no Nordeste do País começou em agosto, mas 430 cidades de oito Estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte) já decretaram situação de emergência. Na prática, isso significa um pedido de ajuda financeira, inclusive para a compra de água.

Seja por conta de excesso ou falta de chuva, 837 cidades brasileiras decretaram emergência ou calamidade pública este ano e outras 1.179 já apresentaram seus pedidos, que estão em análise no Ministério da Integração Nacional. Se todas conseguirem obter aprovação, o número de municípios beneficiados com recursos federais por conta de imprevistos, em grande maioria climáticos, já ultrapassará em 34% os 1.502 decretos reconhecidos ano passado. Em 2006, 991 municípios fizeram jus à ajuda.

Em alguns municípios do Nordeste, o estado de emergência dura três anos. É o caso de Riachão do Jacuípe, na Bahia, que desde fevereiro de 2007 vive nesse estado. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, a cada 90 dias, o município renova seu pedido. Assim como o prefeito de Riachão, todos os prefeitos dos municípios atingidos pela seca alegam falta de recursos.

Só com a Operação Carro-pipa, executada pelo Exército sob coordenação da Defesa Civil Nacional, o Ministério da Integração Nacional gastou R$ 100 milhões até junho. No ano passado, o gasto somou R$ 139 milhões. Segundo dados do Ministério da Integração, 325 municípios do semiárido estão inscritos no programa. Em agosto passado, a Secretaria Nacional de Defesa Civil se reuniu com o Exército para discutir uma forma de levar água para quem precisa de forma regular, sem necessidade de ingressar nos programas emergenciais.

A falta d’água é um problema permanente no semiárido, mas acaba tendo tratamento de emergência, que se repete a cada ano.

Para Francisco de Assis Souza Santos, do 3º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com base no Recife, ainda está longe de se poder falar em seca no Nordeste. "O déficit hídrico é normal para esta época do ano. Temos até agora um índice de aridez suave no Centro-Sul do Piauí, no Sul do Maranhão e no Centro-Leste da Bahia. Em Bom Jesus do Piauí não caiu uma lágrima em agosto. Mas na média cai 3,8 mm. Chover isso ou não chover nada dá no mesmo", explica Santos, acrescentando que só é possível falar em seca se não chover a partir de novembro.

O semiárido nordestino tem um regime de chuvas muito irregular. A média anual de chuva na região é de 400 mm. É um volume de água que, se fosse bem distribuído, garantiria a colheita de safras de milho e feijão, base da alimentação na zona rural, onde vivem cerca de 16 milhões de pessoas. Mas essa irregularidade faz com que muitas vezes cerca de 75% da chuva caia durante apenas um mês. No resto do ano, fica a estiagem.

O Piauí é um caso emblemático. No início do ano, praticamente todo o Estado foi atingido por fortes chuvas. Mais de 7 mil famílias piauienses foram prejudicadas pelos temporais. Em Teresina, pelo menos 10 mil pessoas tiveram algum tipo de prejuízo. A barragem de Algodões foi abaixo, causando mortes. Choveu tanto que o asfalto de muitas avenidas cedeu e o dique do Rio Poti Velho apresentou rachaduras. Mas toda a água da chuva que ficou armazenada nos açudes já acabou e dezenas de povoados e vilas sofrem com a escassez.

Naquele período, quando o Norte e parte do Nordeste sofria com a chuva, o Sul sofria com a seca. Agora, a situação se inverte. Nas últimas duas semanas, o Sul do País foi castigado pela chuva, com mais de uma centena de cidades declarando estado de emergência.

Do ponto de vista climático, a explicação está no El Niño, o aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Quando ele entra em ação, chove no Sul e falta chuva no Norte e Nordeste. Quando o fenômeno se inverte (La Niña), ocorre o oposto.

Para quem mora no interior do Piauí, norte de Minas ou na Bahia, a seca nesta época do ano não é propriamente uma novidade. No ano passado, neste mesmo período, a seca já havia se instalado.

No Piauí, 76 cidades estão estado de emergência, mas apenas 30 devem receber água via carros-pipa imediatamente.
Fonte: site Miséria

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