Existe uma desproporção entre o número de pessoas do sexo feminino e masculino no Ceará
Que o Ceará possui mais mulheres do que homens, muita gente já desconfiava. A novidade é que isso deixa de ser conjectura e torna-se uma comprovação numérica. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2009, a quantidade de homens é inferior a de mulheres, em cerca de 300 mil habitantes. Os dados indicam que, do total de mais de 8 milhões de pessoas, o Ceará possui 4,4 milhões de mulheres contra 4,1 milhões de homens. Para as solteiras a escassez é grande: no Estado, para cada cem mulheres solteiras faltam mais de nove homens.
Especialistas atribuem o resultado ao fato de que eles morrem mais que elas, tanto por causas relacionadas à violência urbana como ausência de cuidados com a saúde. Entre os principais problemas está o consumo excessivo de álcool. E no Ceará, a situação é grave: 91,1% dos óbitos com causa plenamente relacionada ao uso de álcool são de pessoas do sexo masculino. A pesquisa, feita no período entre 2000 e 2006, pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), é o primeiro levantamento nacional sobre padrão de consumo de álcool na população brasileira.
A cada três pessoas que morrem no Brasil, duas são homens. E falecem jovens: a cada cinco óbitos de 20 a 30 anos, quatro são homens. A publicação Saúde Brasil 2007 indica que os homens representam quase 60% das mortes no país.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, embora a expectativa de vida dos homens tenha aumentado de 63,20 para 68,92 anos, de 1991 para 2007, ela ainda se mantém 7,6 anos abaixo da média das mulheres.
De acordo com o Ministério da Saúde, 82% das mortes por acidente de trânsito são de homens. Para o urologista da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Leocácio Barroso, os acidentes automobilísticos são a principal causa de óbito até os 40 anos. A violência é preocupante e, para completar, "no Ceará, a utilização da arma de fogo nos homicídios é muito elevada", disse. Para o médico, que já fez parte do Centro de Atenção à Saúde do Homem (Cash) da SMS, eles morrem mais cedo e matam-se mais. Por causa da falta de cuidados com a saúde, eles terminam caminhando para o "suicídio involuntário": são elevadas as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares e câncer de próstata, que é a segunda causa de óbitos por câncer entre homens, superando apenas o de pulmão.
ESTADO CIVIL
A maior parte é descompromissada
O número de solteiros é maior do que o de casados. Quase 50% da população do Estado é de pessoas descompromissadas. Do total de 6,1 milhões de pessoas, quase 3 milhões são solteiros contra 2,6 milhões de casados. Do índice de solteiros, muitos são homens.
Essa estatística vai de encontro ao fato de as mulheres terem dificuldade de arrumar um companheiro. Na realidade, o problema não está só na falta de pessoas do sexo masculino. Os homens continuam solteiros por opção. É o caso do advogado Alex Alexandrino Bezerra, de 34 anos. Ele diz que, apesar da oferta de mulheres em Fortaleza, decidiu se manter solteiro. "Existem muitas meninas interessantes, mas, por enquanto quero me dedicar ao trabalho", conta. Alex afirma que sai pouco e, quando isso acontece, acaba conhecendo garotas nas festas, mas acredita não ser o local mais adequado para começar um relacionamento sério.
Para a maioria dos homens, o matrimônio está plenamente associado a uma boa situação financeira. "Ninguém vai viver só de amor né?", sugere o personal trainer Manoel Rubens.
Já para o professor Rafael Macedo, sem emprego um homem não conquista uma mulher. O advogado Alexandre Bezerra acrescenta: "a gente trabalha por causa das mulheres, malha por causa delas, bebe para chegar nelas, tudo que a gente faz gira em torno da mulher".
Segundo o psicólogo e doutor em sociologia Georges Boris, na sociedade moderna as relações afetivas têm se tornado confusas, pois os homens, "ao não se permitirem reconhecer seus limites e potencialidades, tem dificuldade de lidar com as conquistas femininas e o mundo delas tem se tornado um espaço de estranheza e desconfiança, ao qual os homens resistem ou mesmo recusam qualquer aproximação. Apesar de terem as mesmas necessidades psicossociais das mulheres - ou seja, ser ativo e passivo, amar e ser amado e manifestar emoções e sentimentos, a ilusão viril continua proibindo ou limitando os homens na expressão de suas reais necessidades e na adoção de algumas atitudes verdadeiramente humanas".
DEMANDA SOCIAL
Políticas públicas para a saúde masculina
De acordo com o urologista da SMS, Leocácio Barroso, os homens não buscam o médico por conta de barreiras culturais. "São mais resistentes. Primeiro, porque têm medo de descobrir a doença e necessitar de cirurgia, por serem os provedores da família. E, depois, têm o pensamento de que nunca vão adoecer". O médico menciona que Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê o registro de 47 mil casos de câncer de próstata novos ao ano, em todo Brasil, e uma mortalidade estimada em 4.100 mortes por ano. De acordo com ele, as doenças cardiovasculares são também responsáveis por uma importante "fatia do bolo". Os fatores de risco já são bastante conhecidos: diabetes, hipertensão, obesidade, sedentarismo, tabagismo e níveis elevados de colesterol e triglicerídios no sangue.
Em Fortaleza existem alguns ambulatórios especializados, em destaque o Centro de Atenção à Saúde Homem (Cash), que funciona no Frotinha de Antônio Bezerra, que oferece atendimentos em urologia.
JANAYDE GONÇALVES E LINA MOSCOSOREPÓRTERES
Entrevista
O homem deve, na verdade, ser reconhecido como o sexo "fraco"
Por que homens morrem mais e representam menor número?
Os perigos se iniciam desde a sua constituição biológica, se estendendo ao longo da existência física, psicológica e sociocultural dos homens. Já no útero materno, o embrião, e, posteriormente, o feto do sexo masculino, têm maiores dificuldades para sobreviver, sendo maior o número de abortos de embriões e feto machos, o que parece indicar sua maior fragilidade em relação aos do sexo feminino; - esta ameaça de fragilidade se mantém no primeiro ano de vida, pois morrem mais crianças do sexo masculino nesta faixa etária; a mortalidade masculina é significativamente superior à das mulheres, ao longo de toda a sua vida: os homens morrem com mais frequência e mais cedo.
Ainda podemos considerar o homem como o sexo forte?
Diante das dificuldades e dos transtornos da construção da subjetividade masculina, já não se pode manter de pé a concepção popular de que o homem é o sexo forte: ele deve, na verdade, ser reconhecido como o sexo "fraco", pelo menos em alguns aspectos, pois é vítima de uma série de fragilidades, tanto físicas quanto psíquicas. Há predominância, na população masculina, dos distúrbios psiquiátricos mais comuns entre as crianças. Da mesma forma, as perversões assumem um caráter essencialmente masculino, pois o fetichismo, o travestismo e o transexualismo atingem muito mais frequentemente os homens.
Confira entrevista na íntegra no Portal Verdes Mares!
GEORGES BORIS
Psicólogo e Doutor em Sociologia
Fonte: Diário do Nordeste
Que o Ceará possui mais mulheres do que homens, muita gente já desconfiava. A novidade é que isso deixa de ser conjectura e torna-se uma comprovação numérica. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2009, a quantidade de homens é inferior a de mulheres, em cerca de 300 mil habitantes. Os dados indicam que, do total de mais de 8 milhões de pessoas, o Ceará possui 4,4 milhões de mulheres contra 4,1 milhões de homens. Para as solteiras a escassez é grande: no Estado, para cada cem mulheres solteiras faltam mais de nove homens.
Especialistas atribuem o resultado ao fato de que eles morrem mais que elas, tanto por causas relacionadas à violência urbana como ausência de cuidados com a saúde. Entre os principais problemas está o consumo excessivo de álcool. E no Ceará, a situação é grave: 91,1% dos óbitos com causa plenamente relacionada ao uso de álcool são de pessoas do sexo masculino. A pesquisa, feita no período entre 2000 e 2006, pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), é o primeiro levantamento nacional sobre padrão de consumo de álcool na população brasileira.
A cada três pessoas que morrem no Brasil, duas são homens. E falecem jovens: a cada cinco óbitos de 20 a 30 anos, quatro são homens. A publicação Saúde Brasil 2007 indica que os homens representam quase 60% das mortes no país.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, embora a expectativa de vida dos homens tenha aumentado de 63,20 para 68,92 anos, de 1991 para 2007, ela ainda se mantém 7,6 anos abaixo da média das mulheres.
De acordo com o Ministério da Saúde, 82% das mortes por acidente de trânsito são de homens. Para o urologista da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Leocácio Barroso, os acidentes automobilísticos são a principal causa de óbito até os 40 anos. A violência é preocupante e, para completar, "no Ceará, a utilização da arma de fogo nos homicídios é muito elevada", disse. Para o médico, que já fez parte do Centro de Atenção à Saúde do Homem (Cash) da SMS, eles morrem mais cedo e matam-se mais. Por causa da falta de cuidados com a saúde, eles terminam caminhando para o "suicídio involuntário": são elevadas as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares e câncer de próstata, que é a segunda causa de óbitos por câncer entre homens, superando apenas o de pulmão.
ESTADO CIVIL
A maior parte é descompromissada
O número de solteiros é maior do que o de casados. Quase 50% da população do Estado é de pessoas descompromissadas. Do total de 6,1 milhões de pessoas, quase 3 milhões são solteiros contra 2,6 milhões de casados. Do índice de solteiros, muitos são homens.
Essa estatística vai de encontro ao fato de as mulheres terem dificuldade de arrumar um companheiro. Na realidade, o problema não está só na falta de pessoas do sexo masculino. Os homens continuam solteiros por opção. É o caso do advogado Alex Alexandrino Bezerra, de 34 anos. Ele diz que, apesar da oferta de mulheres em Fortaleza, decidiu se manter solteiro. "Existem muitas meninas interessantes, mas, por enquanto quero me dedicar ao trabalho", conta. Alex afirma que sai pouco e, quando isso acontece, acaba conhecendo garotas nas festas, mas acredita não ser o local mais adequado para começar um relacionamento sério.
Para a maioria dos homens, o matrimônio está plenamente associado a uma boa situação financeira. "Ninguém vai viver só de amor né?", sugere o personal trainer Manoel Rubens.
Já para o professor Rafael Macedo, sem emprego um homem não conquista uma mulher. O advogado Alexandre Bezerra acrescenta: "a gente trabalha por causa das mulheres, malha por causa delas, bebe para chegar nelas, tudo que a gente faz gira em torno da mulher".
Segundo o psicólogo e doutor em sociologia Georges Boris, na sociedade moderna as relações afetivas têm se tornado confusas, pois os homens, "ao não se permitirem reconhecer seus limites e potencialidades, tem dificuldade de lidar com as conquistas femininas e o mundo delas tem se tornado um espaço de estranheza e desconfiança, ao qual os homens resistem ou mesmo recusam qualquer aproximação. Apesar de terem as mesmas necessidades psicossociais das mulheres - ou seja, ser ativo e passivo, amar e ser amado e manifestar emoções e sentimentos, a ilusão viril continua proibindo ou limitando os homens na expressão de suas reais necessidades e na adoção de algumas atitudes verdadeiramente humanas".
DEMANDA SOCIAL
Políticas públicas para a saúde masculina
De acordo com o urologista da SMS, Leocácio Barroso, os homens não buscam o médico por conta de barreiras culturais. "São mais resistentes. Primeiro, porque têm medo de descobrir a doença e necessitar de cirurgia, por serem os provedores da família. E, depois, têm o pensamento de que nunca vão adoecer". O médico menciona que Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê o registro de 47 mil casos de câncer de próstata novos ao ano, em todo Brasil, e uma mortalidade estimada em 4.100 mortes por ano. De acordo com ele, as doenças cardiovasculares são também responsáveis por uma importante "fatia do bolo". Os fatores de risco já são bastante conhecidos: diabetes, hipertensão, obesidade, sedentarismo, tabagismo e níveis elevados de colesterol e triglicerídios no sangue.
Em Fortaleza existem alguns ambulatórios especializados, em destaque o Centro de Atenção à Saúde Homem (Cash), que funciona no Frotinha de Antônio Bezerra, que oferece atendimentos em urologia.
JANAYDE GONÇALVES E LINA MOSCOSOREPÓRTERES
Entrevista
O homem deve, na verdade, ser reconhecido como o sexo "fraco"
Por que homens morrem mais e representam menor número?
Os perigos se iniciam desde a sua constituição biológica, se estendendo ao longo da existência física, psicológica e sociocultural dos homens. Já no útero materno, o embrião, e, posteriormente, o feto do sexo masculino, têm maiores dificuldades para sobreviver, sendo maior o número de abortos de embriões e feto machos, o que parece indicar sua maior fragilidade em relação aos do sexo feminino; - esta ameaça de fragilidade se mantém no primeiro ano de vida, pois morrem mais crianças do sexo masculino nesta faixa etária; a mortalidade masculina é significativamente superior à das mulheres, ao longo de toda a sua vida: os homens morrem com mais frequência e mais cedo.
Ainda podemos considerar o homem como o sexo forte?
Diante das dificuldades e dos transtornos da construção da subjetividade masculina, já não se pode manter de pé a concepção popular de que o homem é o sexo forte: ele deve, na verdade, ser reconhecido como o sexo "fraco", pelo menos em alguns aspectos, pois é vítima de uma série de fragilidades, tanto físicas quanto psíquicas. Há predominância, na população masculina, dos distúrbios psiquiátricos mais comuns entre as crianças. Da mesma forma, as perversões assumem um caráter essencialmente masculino, pois o fetichismo, o travestismo e o transexualismo atingem muito mais frequentemente os homens.
Confira entrevista na íntegra no Portal Verdes Mares!
GEORGES BORIS
Psicólogo e Doutor em Sociologia
Fonte: Diário do Nordeste
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