Viúva da Mega-sena será ouvida hoje

Tássia Thum Do G1, em Rio Bonito

Dos quatro réus acusados de participar da morte do ganhador da Mega-Sena, René Sena, dois foram ouvidos entre a noite de quarta-feira (30) e início da madrugada desta quinta-feira (1º) no Tribunal do Júri de Rio Bonito, na Baixada Litorânea do Rio de Janeiro, no terceiro dia de julgamento.
O primeiro réu a ser ouvido foi o policial militar Ronaldo Amaral, que chegou a ficar preso por 1 ano e 8 meses. Ele trabalhou por dois meses como segurança de René Sena. No entanto, o PM disse que na época do crime já não trabalhava mais com o milionário.
O depoimento do policial durou cerca de 30 minutos. Ele é acusado de fornecer uma moto que foi usada no crime. Ronaldo voltou a negar participação no caso.
O segundo réu interrogado foi o também policial miliar Marco Antônio Vicente, que ficou 1 ano e 11 meses preso e é acusado de ajudar a planejar o crime. Ele disse que trabalhou na segurança de René Sena pelo período de 30 dias, no ano de 2006. O PM também negou participação no caso.
O interrogatório foi interrompido por volta de 0h20 desta quinta, e será retomado ao meio-dia, quando começam a ser ouvidos Janaína Oliveira e a viúva de Sena, Adriana Almeida.
Após os interrogatórios começarão os debates entre a defesa e a acusação, e só depois os jurados vão se reunir para concluir o julgamento.
Depoimentos
O depoimento de 16 das 52 testemunhas envolvidas inicialmente no julgamento terminou por volta de 23h desta quarta. O julgamento começou no fim da tarde de segunda-feira (28), com seis horas de atraso, e deve durar até o fim desta semana. A morte do milionário ocorreu em 2007.
O júri é presidido pela juíza Roberta dos Santos Braga Costa, da 2ª Vara de Rio Bonito. A decisão caberá a um júri popular, formado por cinco homens e duas mulheres.
Os ex-seguranças da vítima - o ex-policial militar Anderson Silva de Sousa e o funcionário público Ednei Gonçalves Pereira - já foram condenados a 18 anos de reclusão, cada um, pelo assassinato de René Sena e pelo crime de furto qualificado. O julgamento dos dois foi em julho de 2009, segundo o TJ.
Família da viúva
No terceiro dia de julgamento, seis testemunhas prestaram depoimento. O júri ouviu Valéria Almeida, irmã de Adriana, Marcelo Braga, cunhado da viúva e que trabalhou como administrador da fazenda onde René morava, um enfermeiro que cuidou do milionário, além do policial militar Alexandre da Fonseca Cipriano, ex-segurança de René, Creusa Almeida, mãe de Adriana, e Otávio dos Santos, namorado de Renata - filha da vítima.
Na quarta-feira (30), o cunhado e a mãe de Adriana disseram que foram pressionados por policiais civis, durante a fase de investigação do crime, em 2007. Marcelo Braga negou trechos do depoimento dado à Divisão de Homicídios (DH) e disse à Justiça que assinou o documento sem poder ler. Segundo ele, os policiais não o permitiram.
No interrogatório, Creusa disse que não prestou depoimento na sede policial, conforme indicava seu testemunho anterior à Justiça. Ela afirmou que foi ouvida pelos agentes da DH  na fazenda onde morava René. Na ocasião, a mãe de Adriana disse que os policiais davam socos na mesa, na tentativa de intimidá-la, considerando que ela não sabe ler nem escrever.
"Os policiais queriam que eu incriminasse a Adriana. Mas eu disse que ela é inocente, e quem fez tudo isso, fez na na intenção de prejudicá-la", discursou a mãe.
No fim de seu depoimento, que durou cerca de duas horas, ela disse que no dia da morte de René, Adriana se encontrou com o seu pai. Após a declaração, o advogado de defesa Jackson Costa tentou informalmente suspender o julgamento, alegando que precisava do testemunho do pai. No entanto, a juíza explicou que a fase de escolha de testemunhas já tinha terminado.
Ainda durante o julgamento da mãe, faltou luz no tribunal, e o julgamento foi paralisado por alguns minutos.
Exame de DNA
Os parentes de Adriana informaram também que René havia comentado certa vez que suspeitava da paternidade da filha, e por isso, pensava em pedir um exame de DNA. As testemunhas contaram que o milionário se queixava de alguns familiares, dizendo que eles o procuravam apenas para pedir dinheiro.
Ao ser interrogado, o namorado de Renata negou que René tivesse dúvidas em relação a paternidade. Ele também defendeu a única filha do milionário ao dizer que a jovem se preocupava pelo pai, mas era impedida por Adriana de ter um contato maior com René.
Disputa pela herança
A promotora Priscilla Naegelle acredita que a sentença será favorável à filha de René Sena, Renata Sena, que trava uma disputa com Adriana pela herança. "Nós temos várias provas, incluindo interceptações telefônicas que apontam a Adriana como mandante do crime", afirmou a promotora.
O assistente de acusação, o advogado Marcus Rangone, contratado pela filha da vítima, disse que após a sentença ser proferida, a filha do milionário pretende se mudar para fora do país. "Está mais do que provado que Adriana tinha interesse na morte do Renê", afirmou o advogado, confiante na condenação da viúva do milionário.
Acusada de ser mandante do crime, Adriana Almeida, viúva de René Sena, chega ao fórum de Rio Bonito nesta quarta (30) (Foto: Tássia Thum/G1) 
Adriana chega acompanhada do advogado
(Foto: Tássia Thum/G1)
Alguns dos dez irmãos de René Sena também foram ao fórum na quarta-feira para acompanhar o terceiro dia de sessão. Eles entraram com uma ação na Justiça para anular o testamento deixado por René que previa a divisão da fortuna apenas entre Renata e Adriana.
De acordo com o advogado contratado pelos irmãos, Sebastião Mendonça, o ex-lavrador tinha feito anteriormente um testamento que dividia a herança entre os irmãos, um sobrinho e a filha de Rene, Renata. "Estima-se que atualmente o patrimônio deixado pelo Rene seja de R$ 60 milhões entre fazendas, coberturas e imóveis de luxo. Além do mais, cerca de R$ 44 milhões em aplicações financeiras estão bloqueados pela Justiça", disse Mendonça.

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