Produção de Abacaxi no Cariri

Produtores da Serra do Araripe estão apostando na plantação de abacaxi e já lucram com a colheita
Santana do Cariri. O cultivo do abacaxi está transformando a economia agrícola da Serra do Araripe, uma área tradicionalmente pobre, onde a maioria dos moradores vive da exploração de lenha, carvão e mandioca. No Distrito de Dom Leme, Município de Santana do Cariri, foram plantados 180 hectares da fruta que é vendida, com facilidade, dentro da roça e no mercado regional por R$ 1,50 cada unidade.

A cultura do abacaxi apresenta alta rentabilidade econômica, apesar de requerer tratos culturais intensivos, o que encarece o custo de produção, com a aplicação de defensivos agrícolas e assistência técnica que é feita pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), que acompanha semanalmente os plantios.

Um exemplo dessa alternativa econômica que está renascendo na Serra do Araripe é o agricultor Antônio Floriano Peixoto. Ele nasceu e cresceu na Serra do Araripe, passando por todas as dificuldades que o solo pobre da Chapada do Araripe oferece. Peixoto experimentou todas as atividades agrícolas possíveis, da venda de carvão a fabricação de farinha de mandioca. No entanto, acumulou dívidas e, também, decepções.

Investimento

A partir do ano de 2000, quando foi reativado o cultivo do abacaxi na Serra, com assistência técnica e financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o agricultor juntou a mulher e os seis filhos e investiu todas as suas esperanças no cultivo do abacaxi.

Hoje, Peixoto está colhendo cerca de 13 mil abacaxis por hectare. Com esta produtividade, pagou todas as dívidas e comprou uma camionete para transportar o abacaxi para as feiras regionais, evitando, portando, os atravessadores que geralmente consomem a metade do lucro dos produtores.

Empréstimo

A mulher dele, dona Maria Narciso Peixoto, entusiasmada com o sucesso do abacaxi, também solicitou empréstimo do Pronaf e criou a sua rocinha. Ela diz que quando leva abacaxi para a feira do Município de Juazeiro do Norte, vende todos em menos de uma hora.

De acordo com a esposa do produtor, "o consumidor prefere o abacaxi da serra, que é mais doce do que o que vem do Estado da Paraíba".

Segundo o agrônomo Francisco Novais Tavares orienta, os solos para plantio do abacaxi devem ser de textura média (areno-argilosa) ou leve (arenosa), e bem drenados, de preferência planos, com boa profundidade e com pH em torno de 5.0. Não devem ser sujeitos ao encharca mento.

"O plantio deve ser feito, de preferência, no início da estação chuvosa, o que facilita o pegamento das mudas", diz Novais. O profissional esclarece, ainda, que esta indicação não é rígida e o plantio pode ser efetuado durante todo o ano, a depender da umidade do solo, da disponibilidade de mudas e da época que deseja colher o fruto. Outra recomendação importante é manter a lavoura livre de plantas daninhas, sobretudo durante os primeiros seis meses após o plantio.

Rentabilidade
A boa rentabilidade do abacaxi está despertando os agricultores da Serra do Araripe que não acreditavam em práticas agrícolas. No Município de Porteiras, dez produtores, que conseguiram aprovação de seus projetos de financiamentos, se preparam para a primeira colheita já pensando no lucro. "O abacaxi é de ótima qualidade", diz a agente rural Ematerce, Maria de Fátima Benício.

Entusiasmado com o sucesso do plantio, o agricultor Francisco José, conhecido por "Titã", vendeu uma moto, seu único meio de transporte, para empregar no plantio de abacaxi. "Valeu à pena", comemora Tita, antevendo uma produtividade de 15 mil abacaxis por hectare em seu plantio.

A colheita pode ser feita com o auxílio de um facão. Corta-se a haste a uns cinco centímetros abaixo do fruto. Só colher os frutos quando a cor da casca estiver mudando de verde escuro para bronzeado-amarelado e os frutilhos se tornarem achatados. Frutos para a indústria podem ser colhidos maduros e sem as mudas.

Além do fruto, os produtores estão apostando também na vendas de mudas, que são vendidas a R$ 0,80 centavos a unidade. Os tipos de mudas comumente usadas são: coroa filhote, filhote-rebentão e rebentão. Os técnicos orientam que a seleção das mudas é importante para que não haja transmissão de doenças.

Pertencente à família das bromeliáceas, o abacaxi é originário da América do Sul, e adapta-se bem em regiões de clima quente. Quando os descobridores chegaram ao Brasil, os índios já se dedicavam ao cultivo do abacaxi. Atualmente, os principais países produtores são Estados Unidos, Brasil, Malásia, Formosa, México e Filipinas.

De sabor ácido e adocicado, o fruto é rico em vitaminas C, B1, B6, além de ferro, magnésio e fibras. Costuma também ser usado na medicina popular para prevenir dores de garganta e resfriados. Por conter uma substância chamada bromelina, também ajuda na boa circulação do sangue. Além da polpa, a casca e o miolo do abacaxi podem ser aproveitados para consumo.

Assistência
"Retomamos a cultura que já foi a principal atividade agrícola da Serra do Araripe"
Edilmo Gurgel
Jornalista

"A Ematerce dá assistência e acompanha os projetos para liberar financiamentos"
Francisco Novais Tavares
Agrônomo

MAIS INFORMAÇÕES
Escritório da Ematerce Santana do Cariri
Rua Duque de Caxias , 430
(88) 3102.1293
DESTAQUE

Região já foi a maior produtora do Ceará

Santana do Cariri.
O cultivo do abacaxi na região não é nenhuma novidade. A Serra do Araripe já foi a maior produtora da fruta no Ceará, lembra o jornalista Edilmo Gurgel, coordenador de eventos da Ematerce. O abacaxi produzido na região foi dizimado na década de 70 por uma doença chamada fusariose, que só foi descoberta ou controlada nos anos 90.

Os sintomas mais característicos da fusariose, segundo o agrônomo, aparecem no fruto, com exsudação de goma, principalmente por meio dos frutilhos e que avançam até o eixo central do fruto. Inicialmente, a lesão tem uma coloração clara, de aspecto encharcado, depois marrom e finalmente marrom-escura, sendo gelatinosa e causando o apodrecimento da polpa.

O controle é feito com a aplicação de fungicida. As pulverizações devem ser executadas nas horas mais frescas do dia, de preferência no começo da manhã, a fim de melhorar sua eficiência, bem como não deve ser efetuada a aplicação em dia de chuva, orienta Novais. Os frutos contagiados pelo fundo devem ser elevados.

A partir do ano 2000, o técnico agrícola Sérgio Linhares, então chefe do escritório de Ematerce em Santana do Cariri, resolver retomar o plantio de abacaxi na Serra do Araripe. Inicialmente, foi ocupada uma área de 28 hectares, com controle de pragas e doenças, correção de solo com calcário, indução floral e adubação orgânica.

Poder medicinal

Dez anos depois, o cultivo se espalha na maioria dos municípios do Cariri. É também um fruto medicinal, diz Francisco Novais mostrando um livro com os poderes medicinais do abacaxi, como purificador do sangue, diurético e digestivo. Sua indicação notável é no tratamento das feridas, inflamações, infecções. Em infecções agudas, consumido em fatias, é um parceiro de antibióticos. Contra tosse catarral, usa-se duas colheres de suco de abacaxi diluídas em uma xícara de água quente e uma colher de mel. Beber bastante quente antes de deitar-se.

Antônio VicelmoRepórter

Fonte: Diário do Nordeste

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